Arnaldo Santos
Jornalista e Doutor em Ciências Politicas
Seu nome é Covid, sobrenome 19 – viajante sem passaporte. Para o vírus
que a causa não existem fronteiras ou distâncias que não possam ser
ultrapassadas.
O roteiro da sua viagem tem escala planetária. Os
satélites da Terra registram sua passagem por 104 países, e ele segue
viagem em velocidade supersônica. Nas condições atuais, um vírus pode
abrir caminho de Paris a Tóquio e ao México em 24 horas; é o que afirmam
os pesquisadores.
Nos países que visitou colapsou o sistema de saúde
público e privado, do oriente ao ocidente, paralisou as maiores
economias do mundo e mandou para a UTI alguns dos grandes líderes
políticos mundiais, como o Primeiro-Ministro britânico Boris Jhonson.
Como afirmou o historiador e filósofo Noah Harari, “na batalha contra o coronavírus, a humanidade carece de líderes”.
Referindo-se ao fechamento das fronteiras, medida
adotada por alguns países visitados pelo senhor coronavírus, Harari
completa: “O antídoto contra a pandemia não é a segregação, e sim a cooperação”. E arremata: “A história indica que a proteção se obtém com a solidariedade mundial”.
A julgar pelo que estamos observando por parte das grandes potências
mundiais, estamos longe dessa cooperação – muito pelo contrário.
O poder de destruição do senhor coronavírus não é
bélico, nem tecnológico, mas seus efeitos criam um ambiente de guerra em
todas as nações por onde passa.
A precisão e a velocidade com que dispara suas armas
virais e atinge seus alvos não escolhe classe social, cor, raça,
religião ou ideologia.
Por ironia, o efeito destrutivo disseminado por esse
viajante é absolutamente democrático, até mesmo entre aquelas nações de
regimes autoritários, como China, Rússia, e Irã – para citar alguns
fortemente atingidos por esse viajante.
Seu maior legado são milhares de cadáveres, muitos
deixados até na via pública em decorrência da saturação dos serviços
funerários em algumas cidades mundo afora, por onde tem passado.
Ainda assim, a Covid-19 teve quem apelidassede “gripezinha” e “resfriadinho”.
Para agravar ainda mais essa situação mundial
desalentadora, o indesejado viajante já está grassando no Brasil, onde
as condições para disseminação do seu potencial destruidor são ainda
mais favoráveis, tanto do ponto de vista político, quanto pelas
condições econômicas e sociais.
Sua primeira incursão por aqui foi pelos endereços
nobres das grandes cidades onde mora a classe média-alta brasileira, mas
já chegou às comunidades urbanas, aos povos indígenas e ribeirinhos nas
densas florestas da Amazônia, e prossegue, avançando!
Por essas bandas dos trópicos o andarilho sem
passaporte encontrou altíssima densidade populacional, elevados índices
de pobreza e desigualdade, onde falta até água para higiene das mãos,
precário sistema de saúde pública e privado (felizmente temos uma equipe
de profissionais de saúde de elevada capacidade e formação técnica, e
altíssima dedicação), a despeito de um Governo Federal pouco eficiente e
de um ambiente político onde quem deveria liderar e proteger o cidadão,
especialmente os mais pobres, desorienta e divide a sociedade em razão
de interesses políticos menores, assumindo uma postura maniqueísta sem
precedentes na história recente do País.
Por isso fique em casa. Evite contato com esse viajante!