quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Gostei !

Ensaio inédito do Professor Tim sobre a Nova História de Nova Russas.

Nova História de Nova Russas na visão de um intelectual da Subestação!
Nunca neguei minhas raízes periféricas, mais ainda porque nasci e sempre nas imediações do Tamarindo com a Subestação, na chamada região urbana do Bairro do Alto da Boa Vista.
Não quero refazer, descrever a história de Nova Russas como uma revolta da periferia contra a historiografia tradicional da região central do nosso município -que está comemorando hoje [11 de novembro] seus 92 anos de emancipação político-administrativa.
Não quero estabelecer um conflito centro-periferia ao construir uma nova História da quase centenária Nova Russas.
 
Nada disso.
Seria muita ousadia da minha parte.
Apenas não concordo com certos métodos conservadores e tradicionalistas de se escrever apenas a história dos ricos e das elites.
Discordo de como muitos fatos históricos foram escritos e contados por certos memorialistas e historiadores.
Por isso quero escrever a nova História de Nova Russas utilizando métodos históricos da Micro-história e seus aspectos das vidas privadas.
Usando o método dialético da tese, da antítese e da síntese reformistas, muito ajuda à construção da nova história local. 
Uso o historicismo para interpretar os fatos históricos nos devidos momentos em que ocorreram.
Para terminar o preâmbulo da Nova História, dizendo que a realidade histórica se faz com documentos, no dizer do historiador Raimundo Girão. 
Começo a revisão histórica questionando a existência do decreto que criou o município de Nova Russas em 11 de novembro de 1922? Em qual arquivo se encontra? Ainda existiria?
Questiono ainda o clichê de que o nosso município nasceu dentro de uma fazenda de curtição de couros do capitão [Guarda Nacional] Bernardino Gomes de Franco -lá pras bandas da Ipueira Velha.
Não existe qualquer resquício ou restos do que fora a tal Fazenda Curtume, nem os tanques de curtição de couros. Teria sido uma invenção histórica?
A oralidade histórica e alguns escritos sem base histórica e bibliográfica, feitos sem a análise documental e histórica, continuam defendendo a tese de que o casal [Manuel Oliveira Peixoto e Manuela Rodrigues de Oliveira] teria doado boa parte do patrimônio pertencente à Paróquia de Nossa Senhora das Graças.
Tem que haver algum testamento, algum documento cartorial comprovando tal fato. Ainda conheço, sinceramente falando.
Podemos até acreditar que o Padre Joaquim Ferreira de Castro, oriundo de São Bernardo de Russas, querendo homenagear sua terra natal, tenha batizado a nossa cidade de Nova Russas.
Gesto importante, mas pouco homenageado. Nem nome de rua ou avenida o padre Joaquim recebeu em Nova Russas. Padre Francisco Rosa, por muito menos, batizou importante rua central.
Se a história de Nova Russas não foi contada apenas pelas elites tradicionais, o comerciante João Lustosa [Capuchu] seria lembrado como um dos nosso maiores heróis. Foi ele quem doou todas as terras que vão da Rua Quintino Bocaiúva até o Sítio Novo.
Outra dúvida histórica é sobre a datação correta da construção da Igreja Matriz de Nova Russas. Alguns falam em 1935, enquanto outros falam em 1937.
Os pseudo-historiadores locais valorizam demais a data de 11 de novembro de 1922 [Lei 2043], mas esquecem o 7 de setembro de 1937.
Data em que o interventor do Ceará, Roberto Carneiro de Mendonça, ao passar de trem por Nova Russas, revogou o decreto estadual 193 [1931], que havia transformado o município novamente em distrito de Ipueiras.
O mais triste, o mais lamentável, o mais trágico de tudo, é que Roberto Carneiro de Mendonça nunca foi homenageado em Nova Russas por tal gesto, nem como nome de rua no Morro da Gaiola. Fato que mancha a nossa história!
A passagem da fração João Alberto da Coluna Prestes em Nova Russas, em meados de 1926, coloca o primeiro prefeito, coronel Antonio Rodrigues Veras, como um estadista à frente do seu tempo e antenado com as mudanças estruturais na sociedade brasileira.
Segundo texto do saudoso tabelião Temóteo Chaves, em seu livro "Reminiscências", Antonio Rodrigues Veras mostrou coragem cívica:
"Façam tudo comigo, mas poupem o meu povo de Nova Russas".
Há a necessidade de uma certa releitura da várias décadas de comando sacerdotal do Monsenhor Francisco Soares Leitão, o famoso Padre Leitão à frente da Paróquia de Nossa Senhora das Graças..
Guia, profeta missionário espiritual e material do nosso desenvolvimento global, Padre Leitão construiu o Círculo Operário, as Casinhas de São Vicente de Paulo, , Patronato Auxilium, Ginásio Monsenhor Tabosa, Cooperativa de Crédito, 
Glorificado por isso na história social, mas seu catolicismo conservador ligados aos ricos, tem sido pouco criticado.
Padre Leitão fez parte da direita católica que apoiou o regime militar e ajudar os prefeitos da ARENA e do PDS. 
Sua Igreja Católica era aliada da burguesia e do poder político da época, fazendo oposição à Teologia da Libertação de Dom Fragoso.
Do escasso material histórico sobre o coronel Artur Pereira, amado e odiado como um dos mais importantes líderes políticos da história de Nova Russas, foi escrito pela via emocional da paixão política.
Alguns dos escritos foram feitos por descendentes de perseguidos políticos do coronel Artur Pereira, classificando-o como um ditador sanguinário.
Muitas são as lendas e as estórias de maldades imputadas ao coronel Artur, inclusive, o de que ele obrigava seus adversários a engolirem cartas e bilhetes desaforados.
Mas nada provado ainda.
Não vale como texto científico e imparcial de análise histórica, pois não refletem sobre o tempo e os sentidos dos atos políticos e sociais do coronel citado.
Quase nada foi escrito sobre o pós-Artur Pereira e os demais ciclos de poder político em Nova Russas:
UDN dos Joaquim, período Oriel Mota, Ciclo dos Mourão, Grupo EMPA etc.
Pouco se estudou a origem e a formação dos movimentos sociais e de massas: feminista, comunitário, pastoral, operário etc.
E a própria organicidade do Movimento Sindical dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e dos Servidores Públicos Municipais.
Mais ainda as lideranças de massas e populações que se projetaram nas lides e nas lutas sociais e sindicais:
Franciné, Gonzaga, Dica, Deusdete, Aírton Simeão, André Pedrosa, Amadeu Araújo, Olindino, entre outros.
Amadeu Araújo, por exemplo, foi um trabalhador/sindicalista rural que chegou à presidência da FETRAECE e à vice presidência da mais importante Confederação dos Trabalhadores da Agricultura no Brasil: CONTAG.
Mas ainda ninguém escreveu a biografia de sucesso do grande líder sindical, intelectual e hoje pastor evangélico, Amadeu Araújo.
Tudo porque os nossos historiadores endeusaram apenas os chamados mitos das classes sociais dominantes. Tecendo apenas os fios rasgados da história dos ricos.
E a nossa história econômica fala apenas dos ciclos do algodão, da mamona e da oiticica. 
Não se escreveu sobre a importância do ciclo do croché das crocheteiras e dos dos vendedores de croché, chamados de atravessadores, que, matulão nas costas, atravessam cidades e estados para divulgar e vender nosso principal produto de exportação. 
A nossa história cultural aborda apenas grupos musicais e artísticos de riquinhos do centro e os guetos literários dos Mendes e dos Martins.
Casimiros coco, repentistas, rezadeiras, louceiras, artesãs, entre outros, nunca foram citados.
Os tipos sociais mais citados são advogados, profissionais liberais, prefeitos e vereadores, médicos etc.
Bodegueiros, tropeiros, farmacêuticos, doutores raízes, lavadeiras de roupas e outros foram esquecidos das memórias históricas.
Na questão da história urbana, glorificam prédios históricos e urbanos como o Arco de Fátima, a Escola Profissionalizante, o prédio do Núcleo de Artes, mas não fazem o mesmo com os pedreiros e serventes que os construíram.
Em relação à história de Nova Russas, a região do Alto e a nossa periferia continuam sendo ficções. 
Pouco se conhece sobre os principais personagens de tal região: poeta Alcides Ferro, professora Maria de Quadros, Chico Pitanga, Raimundo Bandeira, entre outros.
Quem for escrever a nossa história mais profundamente não pode esquecer o LIONS e o LEO, a Maçonaria, a CDL, os Direitos Humanos, as Ong's do nosso processo social e popular. 
Entidades vitais para a compreensão de nossa história dos grupos coletivos e do coletivismo social e comunitário.
Mas há fatos que nunca serão revelados. Jamais serão devidamente esclarecidos para as futuras gerações:
Quem mandou matar Cesário Patrício dentro da cadeia do Ipu e o destino da sua viúva? Por que o 40 BI não ficou em Nova Russas? Por que a Algodoeira Gomes saiu de nossa cidade? Razões da morte de Manezinho Evangelista? Por que o açude Farias de Sousa foi construído em Flores e não em Segredo?
Termino dizendo que os fatos históricos não são estáticos.
Mudam permanentemente com versões diferentes.
Não quero ter a verdade histórica.
Que outros historiadores escrevam novas teses de história.
Viva a Nova História de Nova Russas!.

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