A violência contra a mulher, tema recorrente nas discussões do Legislativo, tem sido pautada por alguns dos deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) nas últimas sessões, tanto em pronunciamentos quanto em proposições que tramitam na casa. A movimentação tem como pano de fundo um cenário de registro de aumento de casos de feminicídio e violência contra a mulher no Brasil ao longo da pandemia da covid-19. De acordo com dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada quatro mulheres, uma foi vítima de algum tipo de violência ano passado, seja física, psicológica, moral ou patrimonial.
Vice-líder do governo na Assembleia, a deputada Augusta Brito (PCdoB) aponta que nos primeiros cinco meses de 2021, a Casa da Mulher Brasileira realizou 12.000 atendimentos a vítimas de algum tipo de violência, com metade tendo ocorrido de forma remota. A parlamentar, ao se pronunciar no plenário da casa, também comentou sobre “pobreza menstrual” e destacou projetos de sua autoria acerca do tema que estão em tramitação no Legislativo cearense. Segundo ela, a menstruação é “algo natural que indica a saúde dos ciclos femininos”, ou seja, é um assunto que deve parar de ser tratado como tabu. “Vai além da falta de recursos para comprar absorventes por aquelas que não têm condições, passa, também, pela saúde física e psicológica de todas as meninas e mulheres”, pontu
O deputado Fernando Hugo (Progressistas), por sua vez,
acrescenta que, entre fevereiro de 2020 e maio de 2021, foram
registrados 17 milhões de casos de agressão física, sexual ou
psicológica. Para ele, além de um problema social, trata-se também do
resultado de uma falta de exposição midiática dessas estatísticas. “É um
problema social imenso, que precisaria de uma sequência de atos
jurídicos, de ações administrativas, de comportamentabilidade científica
e politicamente diferentes. Que desencontro com a vida. Que falta de
postura da modernidade temporal do século XXI”, lamenta.
Ele
ressalta ainda a seriedade da situação, sublinhando que não se trata de
uma “besteirinha” repetida diversas vezes nas Câmaras, Assembleias e até
no Congresso, mas que os dados apresentados são colhidos por
instituições sérias de pesquisa e basta ligar a televisão para confirmar
os índices de violência, visto que são divulgadas notícias de agressão
contra mulheres de todas as idades. “É preciso, com urgência, repetir-se
que as afrontas, as agressões físicas, morais e sexuais não podem
continuar a existir no Brasil no mínimo que se possa imaginar, quanto
mais nessa astronomia numerológica de 17 milhões de mulheres que
denunciaram ou que tiveram parceiros, vizinhos e parentes que
denunciaram. Suplicamos que ações de todas as esferas do serviço público
do Brasil possam agir, pois, casos e mais casos – local e nacionalmente
– estão ocorrendo”, pontuou.
Projetos
Dentre os projetos de
autoria da deputada Augusta Brito relevantes ao tema, destaca-se o
projeto de indicação 58/2021, que institui a Política de Atenção
Integral à Saúde da Mulher (PAISM) no Ceará, constituída de serviços do
sistema público de saúde estadual dirigidos especialmente à atenção
integral à saúde da mulher. Conforme o texto, o principal objetivo é
assegurar a assistência integral à saúde em ações de caráter preventivo e
curativo. A deputada justifica que a medida diz respeito “à
vulnerabilidade feminina frente a certas doenças e causas de morte
devido à situação de discriminação na sociedade do que com fatores
biológicos”.
Além dele, estão em tramitação os projetos de lei
268/2021 e 242/2021. O primeiro “dispõe sobre a inclusão de produtos do
tipo absorvente higiênico feminino como item obrigatório na cesta básica
comercializada no estado do Ceará”, pois, segundo o texto, a maioria
dos produtos de higiene menstrual são caros para a maioria da população
e, por isso, faz-se relevante a promoção de ações de apoio
possibilitando a ampliação no acesso a esses produtos.
Já o segundo
institui a Semana Estadual da Saúde e Higiene Menstrual no Estado do
Ceará. A iniciativa tem como objetivos principais a ampliação e promoção
do acesso às informações sobre saúde, higiene e produtos menstruais e o
combate à pobreza menstrual, por meio do acesso à informação e produtos
de higiene e saúde menstrual.
Números
Segundo dados das 26
secretarias de Segurança estaduais e do Distrito Federal, em 2020 o
Brasil registrou oficialmente a morte de 1.338 mulheres por sua condição
de gênero – assassinatos praticados em sua maioria por companheiros,
ex-companheiros ou pretensos companheiros. O dado aponta um aumento de
2% na comparação com os índices de mortes de 2019.
Além disso,
dos 13 estados que registraram aumento da violência contra as mulheres
ano passado, 12 são do Norte, Centro-Oeste ou Nordeste. Apenas Minas
Gerais (alta de 4%) está fora desse grupo. Dos estados que têm,
historicamente, número maior de feminicídios, o Mato Grosso apresentou
um expressivo aumento de 59%.
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