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Na
contramão do anúncio feito recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro, de que o uso de máscara poderá ser desobrigado para
os que já foram vacinados ou para os que já tiveram o coronavírus,
estudos sobre transmissão por vacinados e reinfecção pela Covid-19
comprovam a importância da máscara para frear a circulação do vírus e
controlar a pandemia.
O
infectologista Marcelo Otsuka ressalta que a máscara é uma política de
saúde pública contra o coronavírus "no mundo todo" e que apenas os
países que conseguiram controlar o vírus já começaram a flexibilizar o
uso do item pelos vacinados.
"Poderemos
começar a deixar de usar a máscara somente quando vacinarmos 75% da
população no país e a taxa de infecção caia significativamente, para 0,3
ou 0,5 e se mantenha estável. Atualmente, nossa taxa de infecção é de
cerca de 1,0. É muito alta", diz Otsuka.
Abaixo, em tópicos, o resumo do que se sabe até o momento sobre transmissão por quem já foi vacinado:
-
Quem já foi vacinado pode se infectar, pois as vacinas foram
prioritariamente desenvolvidas para evitar a forma grave da Covid-19,
hospitalizações e óbitos, não contra o vírus. E, uma vez infectado, a
pessoa pode transmitir;
-
Estudo preliminar na Inglaterra mostrou que infectados pelo coronavírus
que tomaram as vacinas da Pfizer ou Oxford/AstraZeneca tinham menor
probabilidade de transmitir o coronavírus, mas ainda tinham 50% de
chances de transmissão (leia detalhes abaixo);
-Estudo
preliminar com profissionais da saúde em Israel mostrou que vacina da
Pfizer reduziu a transmissão em até 75%; o mesmo resultado não deve ser
alcançado na população em geral;
-Pesquisadores
avaliam que é necessário uma "vigilância ativa" que compare vacinados e
não vacinados para demonstrar o comportamento da transmissão entre os
imunizados a longo prazo.
O
infectologista Robério Dias Leite lembra que nenhuma das vacinas
desenvolvidas contra o coronavírus são totalmente eficazes. "Quem foi
vacinado pode ter Covid-19, pois nenhuma vacina é 100% eficaz e, ainda
que numa forma leve ou mesmo assintomática, também pode transmitir",
afirma.
Sobre
a possibilidade de se infectar mais de uma pelo coronavírus, Dias Leite
alerta que "quem já teve Covid pode ter novamente e transmitir,
sobretudo no contexto de emergência das variantes", diz.
Abaixo, em tópicos, o resumo do que se sabe até o momento sobre a reinfecção por quem já teve o coronavírus:
- Quem teve o coronavírus adquire algum tipo de imunidade natural, mas há diversos relatos de casos de pessoas reinfectadas;
-
Não apenas a reinfecção é possível, como também já foi observado
pessoas que se infectaram mais de duas vezes (leia exemplos abaixo);
- Idosos a partir de 65 anos têm mais chances de serem reinfectados;
- A reinfecção é possível mesmo entre jovens saudáveis;
-
É possível ser reinfectado por uma linhagem semelhante à da primeira
vez em que contraiu o vírus, não sendo necessário ser exposto a uma
variante nova e mais agressiva;
- Pessoas que tiveram casos leves de Covid podem ter reinfecção com sintomas mais fortes;
- Quem teve a forma branda da doença pode não desenvolver anticorpos, mesmo que por um período curto.
- Variante brasileira do coronavírus oferece risco maior de reinfecção
- Variante brasileira do coronavírus oferece risco maior de reinfecção
Transmissão por vacinados
O
primeiro estudo a divulgar resultados preliminares sobre a transmissão
em vacinados foi realizado com a vacina de Oxford/AstraZeneca e
publicado em fevereiro, na revista "The Lancet". Segundo os cientistas
da Universidade de Oxford, a vacina pode reduzir em até 67,6% a
transmissão do coronavírus nas pessoas que tomaram as doses em um
esquema diferente: meia dose na primeira e uma dose padrão na segunda.
Já entre os que foram imunizados com as duas doses na quantidade padrão,
a redução da transmissão foi menor, de 54,1%.
Outro
estudo preliminar publicado de fevereiro, feito com profissionais da
saúde de um hospital em Israel, demonstrou que a vacina da
Pfizer/BioNTech reduziu em até 75% a transmissão do coronavírus menos de
um mês após a aplicação da primeira dose. Os resultados foram
publicados na revista "The Lancet".
Apesar
do bom resultado, os cientistas israelenses pontuaram que eles
precisavam "de validação adicional por meio de vigilância ativa" e que
as reduções vistas nos profissionais de saúde podem ser diferentes das
vistas na população em geral, uma vez que estes profissionais estão mais
expostos ao vírus e a cepas mais virulentas e infecciosas.
Já
um estudo preliminar publicado em abril pela Public Health England
(PHE), agência de saúde da Inglaterra, mostrou que vacinados com os
imunizantes da Pfizer ou Oxford/AstraZeneca tinham entre 38% e 49% menos
probabilidade de transmitir o vírus dentro de casa para os moderadores
que ainda não tinham tomado a vacina. Os pesquisadores observaram
pessoas infectadas pelo coronavírus três semanas depois de tomarem uma
dose.
Estes
resultados demonstram, segundo os especialistas, que, enquanto não se
alcançar a imunidade de rebanho, vacinados têm que usar máscara, uma vez
que a vacina por si só não é totalmente eficaz.
"Vacinados
têm que usar máscara. Estamos cansados de ver pacientes que se
infectaram mesmo depois da vacina. Isso acontece porque ela previne
contra os casos graves, mas não contra a infecção. Você pode estar
vacinado e ser infectado", afirma Otsuka. E uma vez infectado, a pessoa
transmitirá o vírus.
Os
cientistas afirmam que ainda é necessário mais estudos para saber o
momento exato em que será seguro vacinados deixarem de usar a máscara em
locais públicos.
Entre
os países que começaram a flexibilizar o uso do item pelos vacinados,
como Reino Unido, Israel e Estados Unidos, Otsuka destaca que são países
que imunizaram - quando cada indivíduo tomou as duas doses - quase
metade da população.
"Os
países que estão deixando de usar máscaras são os que estão com a
vacinação muito avançada, com mais de 40% da população totalmente
imunizada", diz Otsuka.
Dias
Leite lembra que, no caso do Brasil, além da transmissão descontrolada e
da presença de variantes, o país vacinou cerca de 11% da população.
"A
liberação do uso de máscaras para vacinados só poderá ser recomendada
quando tivermos uma parcela significativa da população vacinada, jamais
num cenário de absoluto descontrole em que nos encontramos no Brasil,
infelizmente", afirma Dias Leite.
Reinfecção por Covid
Idosos
foram os mais propensos a uma reinfecção por coronavírus, segundo um
estudo dinamarquês publicado em março na revista científica "The
Lancet". Ao analisar um grupo de mais de 4 milhões pessoas na Dinamarca
por cerca de um ano, observou-se que, enquanto os mais jovens (de zero a
64 anos) apresentaram uma taxa de proteção de cerca de 80% para novas
infecções, em pacientes com 65 anos ou mais, essa proteção despencou
para 47%.
O
mesmo estudo dinamarquês demonstrou que as pessoas que já foram
infectadas desenvolvem proteção contra a Covid-19, mas esta imunidade
natural não é permanente e dura cerca de seis meses apenas. Por isso, o
artigo ressaltou que esse tipo de proteção não é uma medida confiável
para controlar a pandemia e que a vacinação e medidas como
distanciamento social e uso de máscara não podem ser deixados de lado.
Já
um estudo da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto apontou
um período ainda menor para a imunidade natural, menor que dois meses:
os pesquisadores observaram o caso de uma jovem de 24 anos que se
reinfectou 50 dias após a primeira infecção. Nos dois casos a jovem
apresentou sintomas. O estudo foi publicado na Revista da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical.
Um
estudo americano sobre reinfecção descobriu um intervalo ainda menor
entre a primeira e a segunda: foram apenas de 48 dias. O paciente era
jovem, um homem de 25 anos, e a segunda infecção foi mais grave,
resultando em internação com suporte de oxigênio.
Em
abril, outro estudo americano afirmou que a reinfecção por Covid-19 é
possível mesmo entre jovens saudáveis. Os cientistas analisaram cerca de
3 mil jovens fuzileiros navais de 18 a 20 anos por seis semanas e
observaram que anticorpos gerados na primeira infecção não evitaram nova
infecção. O risco de contrair a doença novamente, entretanto, foi cinco
vezes menor quando se comparado com os jovens que ainda não tiveram a
Covid-19.
Também
em abril, um estudo da Fiocruz em parceria com o Instituto D’Or e a
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriu que quem já teve
Covid com sintomas muito leves, ou assintomática, podem ter reinfecção
com sintomas mais fortes. Isso aconteceu porque, segundo os cientistas,
as pessoas que tiveram a forma branda da doença da primeira vez não
desenvolveram nenhum anticorpo contra o coronavírus.
“A
manutenção daqueles cuidados básicos de distanciamento social, uso de
máscara, higiene das mãos, álcool gel e sabão. O vírus não está
controlado, a pandemia não está controlada, o vírus continua circulando e
as pessoas que já tiveram a doença estão sujeitas a serem
reinfectadas”, disse Mário Dal Poz, professor do Instituto de Medicina
Social da Uerj, ao Jornal Nacional em abril.
Outro
estudo brasileiro, desta vez da Unicamp, identificou quatro casos de
reinfecção pela Covid-19 em profissionais da saúde causadas por
variantes consideradas de "não preocupação". A conclusão dos cientistas é
possível um paciente ser reinfectado por uma linhagem semelhante à da
primeira vez, sendo possível contrair o vírus novamente mesmo em
cenários onde as linhagens mais agressivas estejam controladas. Os
resultados foram publicados na revista científica do Centro de Controle e
Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
G1
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