Relatório recém-publicado pela Controladoria Geral da União (CGU) aponta prejuízos de até R$ 113,7 milhões em adutoras de montagem rápida construídas no Ceará entre 2014 e 2015. Em inspeção realizada no final do ano passado, equipe técnica do órgão apontou "falhas grosseiras e graves" na construção de todos os nove equipamentos vistoriados no Interior do Estado.
Construídas em caráter de emergência e com dispensa de licitação, as
adutoras buscavam levar acesso rápido de água a municípios em risco de
colapso no abastecimento. O relatório aponta, no entanto, que todas as
estruturas inspecionadas funcionavam "precariamente", com três delas —
Canindé, Crateús e Quiterianópolis — estando sem qualquer operação.
Segundo a CGU, o prejuízo ocorreu com erro na montagem dos tubos, que
foram posicionados diretamente sobre o solo, sem suportes de concreto
adequados. "Isso levou a uma redução significativa da vida útil do
equipamento, estimada em dez anos". Além disso, a tubulação não possuía
proteção interna contra corrosão, apesar de isto estar previsto no termo
de referência do edital de licitação.
Segundo o órgão, o prejuízo ficou maior pois a obra foi realizada com
aço especial "Corten", feito com elementos com propriedades
anticorrosivas. Muito mais caro que o aço comum, o material diferenciado
foi usado sob a justificativa de que seria mais duradouro e poderia ser
reutilizado no futuro. Três anos depois das obras, boa parte do
material já estaria inutilizável.
O órgão destaca que a montagem contrariou "preceitos básicos" do
manuseio de equipamentos do tipo. "O assentamento de tubo em aço Corten
diretamente sobre o solo é expressamente vedado pelos fabricantes, tendo
em vista que ocasionará expressiva redução da vida útil", diz. "A
instalação deve ser aérea, sobre suporte estável, com altura mínima do
solo de 150mm²".
O relatório da CGU possui extenso material documental e fotográfico
demonstrando o desgaste das tubulações. Em vários trechos, as adutoras
possuem fortes vazamentos de água e várias estruturas em avançado
estágio de corrosão. Em outros, a tubulação mais cara, adquirida com o
argumento de que seria mais duradoura, já teve de ser substituída.
Relatório aponta ainda problemas como a falta de construção ou
construção inadequada de caixas de passagem, tubulação em áreas
alagadas, entre outros. "As evidências coletadas mostram que os
responsáveis técnicos pela elaboração do projeto básico/termo de
referência de aquisição dos tubos têm grande parcela de contribuição
para os problemas apontados", diz.
"Não se pode afastar, no entanto, a responsabilidade dos agentes
públicos da Cogerh à época, que aprovaram o projeto básico/termo de
referência (...) nem se pode desconsiderar de todo a parcela de
responsabilidade das empresas contratadas para execução das obras de
montagem das adutoras. Salvo se expuseram de maneira expressa e formal o
erro de se assentar a tubulação diretamente sobre o solo", conclui o
relatório.
As obras foram coordenadas pela Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos (Cogerh) do Ceará, com verba do Ministério da Integração
Nacional, ainda na gestão Dilma Rousseff (PT). No relatório, a CGU pede
que o Ministério do Desenvolvimento Regional — pasta "sucessora" da
Integração Nacional — leve em conta o prejuízo nas prestações de contas
do contrato.
A investigação da Controladoria Geral da União que apontou falhas na
instalação das adutoras foi feita a partir de provocação do Ministério
Público Federal no Ceará.
O POVO Online
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