Em artigo sobre as eleições deste ano, o professor da UFC e sociólogo João Arruda aponta a descrença do brasileiro na política. Confira:
Estamos a menos de 100 dias das eleições que poderão mudar os rumos históricos do nosso país e o cidadão brasileiro continua mantendo uma postura de enorme ceticismo, desacreditando que os resultados eleitorais de outubro possam reverter as adversidades que vem infernizando a sua vida e destruindo o tecido social brasileiro. A prova maior dessa descrença é a constatação de que, nessa altura dos acontecimentos, mais de 60% dos brasileiros ainda não sabem em quem ou se vão votar em alguém nas próximas eleições.
A crise, que teve suas causas solidamente estruturadas no desenvolvimento da nossa história, aprofundou-se perigosamente nos últimos seis anos. O quadro é desesperador e a nação brasileira encontra-se acéfala, caminhando perigosamente para uma situação de completa anomia. Como não poderia deixar de ser, o cotidiano do brasileiro transformou-se numa grande tragédia, digna de uma superprodução Shakespeariana.
Essa, sem dúvida, é a maior crise da nossa história. Os Poderes da República, que têm na legitimidade popular a sua intrínseca razão de existência, perderam o respeito e a razão de existir. A Presidência da República encontra-se paralisada, transformada em um grande antro de perversão, de corrupção e de imorais negociatas. O Legislativo há anos está dominado por centenas de corruptos picaretas a serviço de interesses mesquinhos, sem nenhum compromisso com as reais necessidades do povo brasileiro. O Judiciário, nossa última esperança contra os desmandos cometidos pelos demais poderes, o último baluarte a garantir o bom equilíbrio institucional da República, nivelou-se por baixo, passando a navegar tristemente em um enorme mar de lama.
A hora exige determinação e firmeza. Como diz o grande Geraldo Vandré, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”! Não podemos nos dar ao luxo de duvidar ou de tergiversar sobre a necessidade de superarmos esse grande momento de incerteza pelo qual passa a sociedade brasileira. A saída é política e tem que ser dada dentro da institucionalidade democrática através do voto. A superação dessa tragédia se impõe, para os democratas brasileiros, como um grande imperativo a ser perseguido. Faz-se necessária a construção de um grande pacto social capaz de conduzir o Brasil a um porto seguro. Um pacto inclusivo, longe de aventuras oportunistas e das saídas messiânicas.
É lamentável perceber que, enquanto a tragédia brasileira se aprofunda, parte da sua esquerda, principalmente aquela hegemonizada pelo PT, caminha na contramão da história, agindo como se não tivesse nenhuma responsabilidade sobre a crise que o governo Dilma ajudou a aprofundar.
Vítima de inconsistências teóricas maniqueístas e motivada por uma longa tradição messiânica, essa militância prefere reduzir a grave crise nacional a uma ridícula simplificação de disputa entre coxinhas e petralhas. Ao invés de fazer uma grande autocrítica dos seus desvios éticos e estimular a formação de uma grande frente nacional, capaz de formatar um projeto de desenvolvimento nacional inclusivo, tirando o povo brasileiro dessa situação de penúria que o seu partido ajudou a aprofundar, os profetas petistas e seus asseclas preferem insistir no nome do Escolhido, em privilegiar a figura do Salvador, do Messias Redentor.
Coerente com o seu vezo messiânico equivocado e isolacionista, a Comissão Executiva Nacional do PT, em reunião realizada na sexta-feira, 08 de junho, na cidade de Contagem, deliberou que a candidatura do Lula à presidência é a prioridade absoluta
do Partido. O grande surrealismo da história é o PT irresponsavelmente exigir que os partidos de esquerda (PDT, PSB, PSOL, PCdoB) retirem as suas candidaturas e insistam no nome do Lula, mesmo sabendo que ele encontra-se inelegível. O autismo político petista não permite que eles percebam que o PT perdeu a legitimidade de hegemonizar a esquerda e os democratas brasileiros.
Essa posição petista em insistir sectariamente no nome do Lula me fez resgatar o grande Bertolt Brecht, na sua peça Galileu Galilei, quando o seu assistente Andrea, discutindo a intolerância da Santa Inquisição e a sua ação repressiva contra os intelectuais de Florença, entra com esta pérola: – Infeliz do país que não tem heróis. Perplexo com essa barbaridade, Galileu responde de maneira categórica: – Não, Andrea, infeliz do país que necessita de heróis.
Sejamos responsáveis, PT, não insista no equívoco do Andrea!
Os petistas devem entender que o Brasil não precisa de um herói, de um Messias, de um Redentor para nos levar ao paraíso. Precisamos, sim, é de um projeto nacional exequível, racional, republicano e includente, que elimine definitivamente os equívocos, os vícios e os privilégios que emperram o desenvolvimento nacional, e que seja capaz de implementar as reformas necessárias para que povo volte a ter suas necessidades atendidas e retome a esperança no porvir..
Felizmente, a inusitada proposta petista não foi levada a sério pelos seus históricos aliados (Psol, PCdoB, PSB, PDT), tendo, inclusive, encontrado forte resistência dentro do seu próprio partido. Emblemática foi a posição dos governadores petistas do Piauí, Ceará e Bahia e do ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, sinalizando que o PT poderia marchar com Ciro Gomes, o candidato mais preparado, segundo eles, para enfrentar essa tragédia nacional. Essa reação de rejeição vem sendo confirmada também por milhões de eleitores lulistas, que se recusam a entrar nessa grande barca furada.
Quem vem acompanhando os debates e entrevistas nesse período pré-eleitoral já deve ter percebido a existência de um enorme despreparo entre a maioria dos pré-candidatos. Alguns apresentam arremedos inconsistentes de projetos e repetem frases prontas e vazias. Outros são notórios demagogos aventureiros, repetindo o que parece palatável à população, e o PT, com o seu vezo messiânico, não quer saber de projeto, insistindo na candidatura de um candidato inelegível..
Felizmente, nesse contexto de incerteza e de desesperança nacional começa a se consolidar nacionalmente a candidatura do pedetista Ciro Gomes. Com um currículo político-administrativo impecável e um projeto de governo consistente, o pedetista tem a força moral necessária para liderar um grande pacto de salvação nacional. Não por acaso que o PSB e o PCdoB vêm sinalizando apoio àquele que melhor está instrumentalizado para levar o Brasil a superar essa grande tragédia brasileira.