Ao menos três projetos de lei que propõem o uso de bloqueadores de sinal de celular em presídios estão parados no Congresso Nacional há mais de dez anos. O uso de telefones nas cadeias é um dos desafios do país na área de segurança pública.
Em 2021, só na Operação Modo Avião, realizada pelo Departamento
Penitenciário Nacional (Depen), foram apreendidos 5.974 aparelhos em 53
unidades prisionais — uma média de 15 celulares por dia. Esse dado não
abrange todas as apreensões no país, porque o governo federal não tem
uma estatística sobre os 1.381 presídios brasileiros.
As unidades federativas adotam medidas de acordo com a realidade de
cada uma para prevenção de entrada de materiais ilícitos nas prisões,
pois elas são as responsáveis pela administração direta das
penitenciárias estaduais e distritais.
“O Depen, por outro lado, tem realizado o papel de apoiar as
administrações penitenciárias como com a Operação Modo Avião e a doação
de equipamentos que possam colaborar com a segurança das unidades, como
os de revista eletrônica, que podem inibir e evitar a entrada de
materiais ilícitos dentro das unidades”, afirma Tânia Fogaça,
diretora-geral do órgão.
Na sexta-feira (20), por exemplo, a Polícia Civil de Goiás prendeu 18
integrantes de uma quadrilha especializada no ingresso de celulares e
drogas na Casa de Prisão Provisória, no Complexo Prisional de Aparecida
de Goiânia. De acordo com o inquérito policial, em 2021 foram
constatados 85 registros relativos à atividade de drones para entrega
desses itens dentro do presídio goiano, contra apenas sete ocorrências
no ano de 2020.
Celular custa até R$ 15 mil na cadeia
Ao R7, um agente penitenciário de Goiás contou que
um celular pode custar até R$ 15 mil dentro do presídio. “Fica entre R$
6.000 e R$ 15 mil. Também tem muitos presos que tentam fazer uma
barganha com os agentes, oferecem por exemplo R$ 10 mil para entrar com celular no presídio. Funciona mais ou menos assim”, comenta.
Os celulares também são escondidos dentro de alimentos e produtos de
limpeza. “Alguns familiares tentam também fazer fundos falsos e vasilhas
de materiais de higiene, então a gente confere tampas, sabonetes
líquidos, detergentes, desinfetantes.”
Projetos de lei
O Brasil não tem uma legislação única que obrigue, por exemplo, à
instalação de bloqueadores de celular em presídios. Há anos, projetos
que tratam do tema não avançam no Congresso. O projeto de lei 5926/2016,
de autoria do Cabo Sabino (PR-CE), propôs o aumento da pena para o
crime de ingresso ou facilitação de entrada de aparelho eletrônico,
rádio ou similar, em presídios. A proposta foi arquivada em 2017.
Bloqueadores: burocracia e preço alto
Para o perito Eduardo Tagliaferro, especialista em computação
forense, uma série de limitações técnicas, econômicas e jurídicas ajudam
a explicar por que o bloqueio do sinal de celular nas penitenciárias
brasileiras não avançou. Embora ele concorde que bloqueadores de celular
possam ajudar a diminuir a comunicação de presos em presídios, ele
alerta para outro risco: a velocidade das transformações tecnológicas
pode tornar equipamentos obsoletos rapidamente.
“No caso da tecnologia dos bloqueadores de celular, é importante
dizer que isso requer um grande investimento público e privado. A
telefonia muda a cada semana, já estamos perto do 5G no Brasil e a
própria tecnologia do dispositivo avança e melhora a cada dia. No meu
ponto de vista, por mais que o estado e as operadoras invistam em
bloqueadores, nunca vai ser uma cobertura completa e eficiente por causa
do avanço tecnológico”, comenta.
Outros pontos destacados pelo especialista são a pressão que
operadoras de celulares fazem para que a matéria não avance e a
dificuldade em instalar bloqueadores que não prejudiquem a segurança da
população que vive nas proximidades de áreas de segurança. “Esse
bloqueio tem que estar muito bem configurado para não prejudicar a
segurança do cidadão e a segurança do presídio, porque quando a gente
faz um bloqueio dentro de uma área, não bloqueia só o detento, mas tudo o
que está ali dentro”, destaca.
Para ele, a solução estaria na engenharia da construção dos
presídios. “Penso que, para o futuro, a solução seria a construção dos
presídios como uma gaiola de Faraday, que é uma espécie de tela de metal
que bloqueia sinais, e que poderia ser colocada dentro das paredes dos
presídios, por exemplo, o que já criaria essa barreira de sinal”,
completa.
R7