Cidade oferece até faculdade ´de graça´ para conseguir médicos
Enquanto
o governo brasileiro trava um embate com associações médicas por causa
da proposta de importar médicos estrangeiros para atender a população,
municípios do interior do País usam de todos os artifícios para
conseguir atrair os profissionais. Em Camargo, a 270 km de Porto Alegre
(RS), o salário de cerca de R$ 16 mil não é suficiente para que médicos
se interessem em trabalhar na cidade de pouco mais de 2 mil habitantes.
Para tentar solucionar o problema, a prefeitura decidiu pagar a
faculdade de medicina para estudantes residentes na cidade que se
comprometam a trabalhar no local por pelo menos cinco anos depois de
formados.
“É sempre o mesmo dilema. Conseguimos um
médico, ele fica no máximo um ano e vai embora. Eles não querem morar
numa cidade pequena, que não oferece oportunidade para crescer mais e se
especializar”, diz a vice-prefeita, Eliani Trentin. Ela tem esperança
que a lei, sancionada no final de 2011, possa acabar com o dilema de não
saber se no próximo mês o médico contratado vai continuar prestando o
serviço.
Pela proposta, moradores da cidade há
pelo menos cinco anos que tenham sido aprovados no vestibular de
medicina de qualquer instituição privada – não importa o valor da
mensalidade – terão todo o curso custeado pela prefeitura desde que se
comprometam a retornar à cidade depois de formados e trabalhar até pagar
o investimento (a estimativa é que serão necessários de cinco a seis
anos). Nesse período, o médico beneficiado vai receber apenas um auxílio
de dois salários mínimos, cerca de R$ 1350.
A ideia, que já despertou o sonho de
muito estudantes da cidade, ainda não foi colocada em prática, já que
nenhum morador foi aprovado no vestibular. “Como é preciso residir aqui
há mais de cinco anos, ficamos um pouco restritos. Mas eu acredito que
em breve teremos os primeiros universitários participando do projeto”,
projeta a vice-prefeita.
Este ano, Camargo conseguiu contratar
uma médica para atender em turno integral e outro para trabalhar 20
horas semanais. Mas a prefeitura não sabe por quanto tempo eles vão
continuar na cidade, já que os contratos são temporários. A prefeitura
já tentou fazer concurso público, mas não houve nenhum interessado.
Segundo a vice-prefeita, não é por falta de estrutura que os médicos
rejeitam Camargo.
“Temos duas unidades de saúde
perfeitamente equipadas para o atendimento básico, claro que não fizemos
cirurgias e procedimentos mais complexos, mas temos equipamentos para
exames, contamos com enfermeiros, fonoaudiólogas, nutricionistas,
farmacêuticos, dentistas. O problema é mesmo o médico”, lamenta.
Nem mesmo salário de R$ 25 mil atrai médicos para interior de MT
Em Porto Estrela, a cerca de 180 quilômetros de Cuiabá, a estratégia da prefeitura diante da falta de médicos foi aumentar o salário para pouco mais de R$ 25 mil para uma jornada de 40 horas semanais. Mesmo assim, desde dezembro a cidade não conta com nenhum especialista para atender os 4 mil moradores.
Em Porto Estrela, a cerca de 180 quilômetros de Cuiabá, a estratégia da prefeitura diante da falta de médicos foi aumentar o salário para pouco mais de R$ 25 mil para uma jornada de 40 horas semanais. Mesmo assim, desde dezembro a cidade não conta com nenhum especialista para atender os 4 mil moradores.
O secretário da Saúde, Manuel Odir da
Cruz, conta que a falta de médicos sempre foi um problema em Porto
Estrela. “Na administração anterior chegou a ser feito um concurso e
teve um médico aprovado, mas foi demitido porque ele não vinha
trabalhar”, lamenta Odir. Segundo ele, aliado a falta de estrutura para
um atendimento mais especializado, a cidade não conta com atrativos para
que pessoas de fora se interessem em viver no local.
“Para chegar aqui são 35 quilômetros de
estrada de chão, não temos uma boa lanchonete, um supermercado grande.
Eles (médicos) querem um bom restaurante, uma academia, nossa cidade não
tem essa estrutura e as pessoas acabam desanimando de morar aqui”,
conta.
Sem atendimento médico no único posto de
saúde, a população precisa se deslocar para o município vizinho, de
Barra do Bugres, e percorrer os 35 quilômetros de estrada de chão para
consultar. Nos casos de emergência, a prefeitura disponibiliza uma
ambulância, que já está em situação precária, para o transporte. “Muitas
complicações de doença poderíamos evitar se tivéssemos um médico aqui,
mas ninguém quer”, diz o secretário.
Tanto em Porto Estrela quanto na cidade
gaúcha de Camargo, os gestores defendem a contratação de estrangeiros
para minimizar o problema da falta de médicos a curto prazo, mas pedem
mais. “Me preocupo com a questão da língua com essa vinda dos
estrangeiros. Nossa população é carente e se não dominar bem o idioma,
esses médicos não vão conseguir se comunicar. Mas acho que já é alguma
coisa”, afirma Odir.
Conselho de Medicina é contra pagar faculdade a médicos
O Conselho Federal de Medicina (CFM) é contra que o governo federal e os municípios financiem a faculdade de medicina de estudantes. Segundo o conselheiro Mauro Ribeiro, qualquer tipo de obrigação para que os médicos atuem em determinada comunidade, mesmo que isso represente o pagamento por um curso superior, não deve ser aceito. “O médico deve ser livre para atuar onde quiser depois de formado”, afirma.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) é contra que o governo federal e os municípios financiem a faculdade de medicina de estudantes. Segundo o conselheiro Mauro Ribeiro, qualquer tipo de obrigação para que os médicos atuem em determinada comunidade, mesmo que isso represente o pagamento por um curso superior, não deve ser aceito. “O médico deve ser livre para atuar onde quiser depois de formado”, afirma.
O conselho também é contrário a vinda de
médicos estrangeiros sem que passem pelo Exame de Revalidação dos
Diplomas (Revalida). Para o CFM, a solução está na construção de uma
carreira para médicos, como já ocorre com os juízes e promotores, por
exemplo. “De nada adianta um prefeito oferecer um salário de R$ 25 mil e
obrigar o médico a trabalhar 16 horas por dia, em um posto de saúde que
não é equipado. O médico quer boas condições de trabalho”, afirma.
Para ter uma ideia de como o salário não
é o principal diferencial, em Cuiabá, a capital do Mato Grosso, um
médico ganha em média R$ 7,5 mil para atender pelo SUS. A prefeitura
garante que, mesmo com um salário 30% menor ao pago em Porto Estrela,
não faltam profissionais interessados em atender na capital.
O que diz o Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde disse, por meio de sua assessoria, que a contratação de médicos estrangeiros é apenas um das medidas para resolver a deficiência de profissionais da saúde na periferia do Brasil. De acordo com a pasta, o País tem hoje uma média de 1,8 médicos por mil habitantes. Esse índice é menor do que em outros países, como a Argentina (3,2) Portugal e Espanha, ambos com quatro por mil habitantes.
O Ministério da Saúde disse, por meio de sua assessoria, que a contratação de médicos estrangeiros é apenas um das medidas para resolver a deficiência de profissionais da saúde na periferia do Brasil. De acordo com a pasta, o País tem hoje uma média de 1,8 médicos por mil habitantes. Esse índice é menor do que em outros países, como a Argentina (3,2) Portugal e Espanha, ambos com quatro por mil habitantes.
Outra proposta, que está em
desenvolvimento junto ao Ministério da Educação (MEC), é a abertura de
novas vagas em cursos de medicina e em residência com foco nas regiões
que mais precisam e que possuem estrutura para formar com qualidade os
profissionais. Ainda segundo o ministério, a importação de médicos é
vista com bons olhos em outros países e experiências do exterior estão
sendo analisadas pelo governo Brasileiro.
Fonte: Terra
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