Alimentos são jogados fora enquanto morre gente de fome
Vivemos em um mundo de abundância e de desperdício. Hoje se produz mais comida do que
em nenhum outro período na história. A produção alimentar se multiplicou
por três desde os anos 60, enquanto que a população mundial, desde
então, somente se duplicou. Há alimento de sobra. Mas 870 milhões de pessoas no planeta, de acordo com indicações da FAO, passam fome e 1 milhão e 300 mil toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente no mundo, um terço do que se produz. Alimentos para comer ou para jogar fora, esta é a questão.
A crise converte a sub-cotação em um drama macabro, onde,
enquanto milhões de toneladas de alimento são desperdiçadas anualmente,
milhões de pessoas não têm o que comer.
E, como e onde se joga fora tanta comida? No campo, quando o preço
caem abaixo dos custos de produção, ou quando o produto não cumpre com
os critérios de tamanho e aspecto exigidos, é mais barato ao agricultor
jogar fora do que colher os alimentos produzidos. Nos mercados em
atacado e nas centrais de compra, onde os alimentos devem passar por uma
espécie de “competição de beleza” correspondendo aos critérios
estabelecidos, principalmente, pelos supermercados. Na grande
distribuição (super e hipermercados), que requerem um número elevado de
produtos para ter as prateleiras sempre cheias, embora mais tarde
expirem e tenham que ser descartados, onde ocorrem erros na preparação
dos pedidos, há problemas de embalagem e deterioração de alimentos
frescos. Em outros pontos de venda no varejo, como os mercados e as
lojas, em que o que não se pode vender é jogado fora.
Nos restaurantes e bares, onde 60% do desperdício são consequência de
uma previsão mal feita, 30% ao preparar as refeições e 10% são sobras
dos pratos dos comensais, de acordo com um relatório. Nos lares, quando os
produtos se estragam porque compramos a mais do que necessitamos,
deixando-nos levar pelas ofertas de ultima hora (tipo 2×1), ou por não
saber interpretar a rotulagem confusa, ou pelos pacotes que não são
adaptados às nossas necessidades.
O desperdício alimentar tem diversas causas e responsáveis, mas,
basicamente, trata-se de um problema estrutural e de fundo: os alimentos
se tornaram mercadorias de compra e venda e sua função principal, nos
alimentar, ficou em segundo plano. Desta maneira, se o alimento não
cumpre determinados critérios estéticos, sua distribuição não é
considerada rentável, se deteriora antes do tempo….. é rejeitado. O
impacto da globalização alimentar a serviço dos interesses da indústria e
dos supermercados, promovendo um modelo de “agricultura quilométrica”,
dependente do petróleo, deslocalizada, intensiva, que fomenta a perda da
agrobiodiversidade e do campesinato …, tem uma grande responsabilidade.
Pouco importa que milhões de pessoas passem a fome. O fundamental é
vender. E se você não pode comprar não conta.
A maior indigestão, o vergonhoso e delinquente são as toneladas de
alimentos que são jogadas fora diariamente, fruto das exigências do
agronegócio e dos supermercados, e que contam a aprovação das
administrações públicas.
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