terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Analfabetismo cultural e funcional no Brasil


Por
Pierre Barreto

O baixo nível educacional da população brasileira é um dos fatores mais importantes para o baixo nível econômico e social do País. Apesar dos esforços do Governo Federal e de iniciativas em vários estados, as pesquisas recentes são desanimadoras. A 6ª edição de Retratos da Leitura no Brasil (Ipec, nov/24) apontou que a maioria dos brasileiros não lê livros (53%) e o resultado obtido é pior que o de 2019. Houve uma redução de sete milhões de leitores. As crianças entre 7 e 13 anos leem mais, embora se considere aqui os livros didáticos.

A falta de tempo, o período gasto na internet e a inexistência de políticas públicas eficazes resultam em um hábito de leitura menor entre adultos. Cerca de 84% da população brasileira acima de 18 anos não comprou nenhum livro nos últimos 12 meses, segundo a pesquisa “Panorama do Consumo de Livros” (Nielsen BookData, dez/23). As pessoas se disseram desmotivadas e reclamaram de falta de tempo, inexistência de livrarias próximas e alto preço dos livros. O analfabetismo cultural é a incapacidade de compreender o mundo e de adquirir cidadania consciente, e advém principalmente da falta de leitura.

O Brasil está mal colocado nesse ranking, até na América Latina. Em Buenos Aires, existe mais de uma livraria em cada quadra comercial e todas estão repletas de leitores. Tão grave quanto isso é o analfabetismo funcional, em que o indivíduo reconhece bem letras, números e frases, mas não é capaz de interpretar informações de textos e utilizá-las. Pessoas funcionalmente analfabetas têm seu crescimento pessoal, profissional e social afetados.

As maiores causas disto são a má qualidade do ensino e a baixa permanência na escola. Cerca de um terço da população brasileira adulta pode ser considerada analfabeta funcional. Isso se reflete na formação ruim da mão-de-obra, inadequada às demandas tecnológicas do mercado. O nível de escolaridade dos trabalhadores brasileiros é praticamente metade dos seus correspondentes no Chile, Uruguai e Argentina. Educação de boa qualidade deveria ser a maior de todas as prioridades do Brasil.

Pierre Barreto é engenheiro, escritor e radialista


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