Quando o Brasil joga dinheiro pela janela

 

Aeroporto de Limoeiro do Norte(CE)

Um centro de abastecimento de aeronaves também seria construído no local pela a empresa AviGás Nordeste Ltda, contratada pelo Governo do Estado.

O DNOCS, sem sombra de dúvidas, foi um dos mais importantes equipamentos de desenvolvimento do Nordeste brasileiro. São incontáveis suas obras de valor. Estradas, cidades, açudes, abastecimentos. Na ponta dos dedos vão faltar mãos e pés a se contar o que fez o DNOCS. Muito tempo depois, vieram DNOS e Codevasf. Em situações diversas, foram deixando o DNOCS de escanteio. Chegaram a "matar" o DNOCS que teria seu acervo e história, assumidos pelo DNOS, numa ridícula disputa política e depois pela Codevasf, que chegou aos Tabuleiros do Piauí, canto de ação do DNOCS. No Maranhão, pra quem não sabe história, nem jamais se interessou pelo processo, O DNOS produziu, em cima do DNOCS obras que minimizaram os problemas das cheias do Mearim. E aeroportos por onde passou com seus projetos de irrigação,açudes e cidades. Um pequeno aeroporto foi construido ao lado da obra do Castanhão. Um aeroporto foi construido em Santa Quitéria,para apoio às obras do açude Édison Queiroz. No Araras tem um bom equipamento de pouso e por aí vai. O aeroporto de Icó, que serviu ao Projeto de Irrigação Icó-Lima Campos foi abandonado e invadido para construção de um conjunto habitacional que nunca foi utilizado por conta da incúria administrativa. E assim, foram matando o DNOCS que também matou sonhos de desenvolvimento regional,como o caso do Projeto de Irrigação da Chapada do Apodi, onde o Ministro Vicente Fialho sonhou grande, quando dizia que alí estavam 20 mil hectares das melhores terras agriculturáveis do Brasil.

Razão

Fialho tinha razão. Valeu cada centavo gasto para elevar água do rio Jaguaribe,garroteado na passagem por Limoeiro do Norte para que super bombas elevassem o principal insumo, a água, para a Chapada onde se plantou figo, e deu. Onde se plantou melancia, melão, frutos nobres, até que virasse um campo de pastagem para alimentar vacas e bois que enriqueceram criadores com leite para o Brasil. Só que foram desfeitos os sonhos de Vicente Fialho, um dos mais valorosos quadros do Governo Sarney que, Ministro do Desenvolvimento Regional, disseminou plantas de progresso, com indústrias de doces, como em Tauá, utilizando a irrigação que fez implantar na região dos Inhamuns.

Sonhos

Sobre o projeto de Irrigação dos Tabuleiros de Russas, na Chapada do Apodi, com a saída de Fialho do Ministério, ao fim do Governo Sarney, equipamentos foram sendo jogados fora, abandonados por uma política irresponsável de degradação dos bens da nação, alguns dos quais jamais conhecidos pelos órgãos competentes do próprio governo. Em Limoeiro do Norte, cerca de 10 quilômetros da cidade e dentro do projeto de irrigação, foi construido um aeroporto de qualidade, com pista de cimento,de grande durabilidade, com 1.400 metros de extensão, por 45 de largura, estação de passageiros e pátio de estacionamento de aeronaves. A ANAC-Agência Nacional de Aviação Civil, que trata de aeroportos no País, nunca soube de sua existência. A ANAC até hoje desconhece o aeroporto de Limoeiro do Norte.

O aeródromo serviria para o escoamento da produção do projeto, seus frutos nobres que cedo foram abandonados para dar espaço à especulação dos lotes, dados a produtores incultos que sequer sabiam se relacionar com os bancos que levaram financiamentos para a região. Havia dinheiro sim, mas muito calote e "sabedorias" que se multiplicaram até a inadimplência que comandou a derrocada do projeto. Foi abandonado, porteira trancada com cadeado enferrujado e sonhos desfeitos. O Governo Cid Gomes, o primeiro, cuidou de ativar o aeroporto. Não conseguiu. Uma campanha local, de prefeitos da região, comandados pelo Prefeito de Limoeiro do Norte, também não deu em nada. O DNOCS não deu, não alugou, não emprestou, pelo contrário, sequer tomou conhecimento dos pleitos do Estado e dos Municípios pela ativação do equipamento que foi sendo perdido pelo abandono.

O vizinho estado do Rio Grande do Norte, que tem ligação estreita, não mais que dez quilômetros com suas terras, ainda tentou com o DNOCS pelo comando do aeroporto. Também não conseguiu.

O DER, do Ceará, foi instado a trabalhar pelo comando do aeroporto de Limoeiro do Norte mas esbarrou na insistência do DNOCS em não abrir mão daquilo que jamais utilizou. O balizamento para pousos noturnos chegou a ser estudado e às vésperas de ser licitado foi igualmente desestimulado. O abandono foi geral e hoje, a pista se perdeu.

Goveradora Izolda Cela assina desapropriaçao para aeroporto regional

Morada Nova

A progressão em que a indústria do leite foi crescendo na vizinha Morada Nova, município a cerca de 40 quilômetros do aeroporto, encontrou campo para querer ser aeroporto regional, abandonando pistas igualmente largadas de Jaguaribe, Senador Pompeu, Mombaça e até do Orós que perdeu seu encanto para uma rua bonita, larga e iluminada na cidade. Em campanha, numa visita à indústria do leite que ampliava seus domínios, o Governador,eleito senador,Camilo Santana, prometeu um aeroporto regional em Morada Nova. Ou esqueceu ou desconheceu o aeroporto de Limoeiro do Norte. Achando que era promessa de campanha, o empresário e adversário de Camilo Santana,Luiz Girão, construiu a pista para seu uso, no lugar onde teria prometido a Camilo fazer doação para o aeroporto regional. A pressa não vingou até que, esta semana, a Governadora Izolda Cela, também sem talvez saber da existência do aeroporto de Limoeiro do Norte,que nem a ANAC reconhece existir, assinou a desapropriação de um terreno para o tal regional prometido por Camilo Santana,apalavrado com o ex-deputado e mega empresário Luiz Girão.

O aeroporto de Limoeiro do Norte é, como diria o poeta, "um retrato na parede, mas como dói".

Por Macário Batista.