Uma
mulher vestida de noiva circulando com um buquê nas mãos pelas ruas do centro de Iguatu. Essa foi a cena que despertou a atenção e a curiosidade de vários moradores de cidade. A performance da mulher,
intitulada “Pra Casar”, que inverte o caminho da noiva, dá as costas à
igreja e toma o verdadeiro rumo de milhares de mulheres pelo mundo: o
cemitério. Uma homenagem às vítimas e um alerta ao aumento no número de
casos de violência contra a mulher durante a pandemia da Covid-19.
Produzida
pela atriz Ana Raquel Gonçalves Machado, ela mesma encena os passos
apreensivos de uma noiva para encontrar a felicidade e tomar outros
rumos. O seu fiel companheiro
e amante de seus desejos pode ser o principal autor e algoz do seu destino. “Há
tempos desejava expor de forma artística esse medo da violência contra a
mulher que me paralisava e que através da arte venho me fortalecendo e
visando fortalecer outras mulheres.
Em
2019, fiz uma pausa em meu trabalho e acessei minhas redes sociais para
relaxar. Após ver no Facebook a imagem de uma vítima de feminicídio,
moradora do Morro dos Macacos/RJ, fiquei impactada com o caso e tudo que
estava guardado em mim. Com relação a este tipo de violência de gênero,
começou a sair e dar corpo a “Pra Casar”. Meu desejo era realizar em
maio de 2020, porém a pandemia veio e mudou os meus planos e o de
milhares de pessoas no mundo”, contou Ana.
A
escolha do nome “Pra Casar” vem em referência à expressão machista de
mulher pra casar e mulher pra pegar. “Desde 2019, venho reunindo em
pastas nas minhas redes sociais matérias que abordam a temática da
violência contra a mulher, e nomeei com título de “Pra Casar”. Nessas
pastas tenho casos de feminicídio, textos refletindo sobre machismo, e
obras criadas a partir dessa temática”, afirmou.
Curiosidade
O
véu percorreu a cidade de Iguatu em duas oportunidades, no último dia
12 e no sábado, 20. Nos bordados do vestido o nome das vítimas de
feminicídio que são transformados apenas em números estatísticos. Entre
eles o nome de Maria Augusta, assassinada pelo pai em 1965, aos 14 anos,
após resistir a tentativa de sedução. “Silenciosamente, eu caminho a
passos lentos, como o de uma noiva em direção ao altar, e ao som da
marcha nupcial.
Paro
apenas quando alguém me para e assim converso sobre o que estou
fazendo. Algumas pessoas desejam apenas parabenizar, desejar
felicidades, tirar foto, outras querem saber se é promessa e muitas
desejam saber se estou bem, se preciso de ajuda e até o momento todas
essas pessoas que quiseram saber como eu estava me sentido foram
mulheres”, contou Ana sobre a curiosidade das pessoas.
Produtora,
performer, artista visual e arte educadora, formada em Artes Cênicas no
Conservatório de Tatuí, Bacharel em Estética e Teoria do Teatro e
Mestranda em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, Ana teve ajuda mais nove pessoas na produção da performance.
Perfil
“Natural
de Fortaleza, mas radicada em Iguatu desde um ano de idade, saí da
cidade apenas para estudar teatro”. Ela pretende levar a obra para
outros lugares. “Quero realizar “Pra Casar” em vários lugares. A
princípio, estudo realizar outras vezes em Iguatu, Crato, Fortaleza,
Recife, e Touros, no Rio Grande do Norte”, afirmou.
O
projeto “Pra Casar” foi aprovado no edital Cultura Presente RJ da Lei
Aldir Blanc. “Em 2021, na cidade Valença/RJ, realizei a performance pela
primeira vez”. Em Iguatu, a “Pra Casar” foi realizada através do Centro
Cultural Banco do Nordeste Cariri.
Fonte Jornal A Praça.
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