Ser médico não é pra qualquer um
A prática da medicina está ameaçada no
Brasil. Basta abrir as páginas dos jornais para constatar uma
verdadeira crise anunciada que inclui notícias como a abertura
indiscriminada de escolas médicas, a flexibilização da residência médica
e as tentativas de revalidar automaticamente diplomas de médicos
formados no exterior sem exigir comprovação de capacidade, apenas para
citar alguns exemplos.
O resultado desse cenário é um profissional com formação deficiente para exercer a medicina. Sempre digo que para ser médico, além da disposição para enfrentar com trabalho árduo e incansável as dificuldades habituais inerentes à profissão, são necessárias características especiais. É fundamental gostar de gente, amar o próximo. O bom médico também deve ser imbuído de firmeza de caráter, ter senso humanístico, consciência coletiva, amor à vida. E você, como eu, sabe que esses atributos não são adquiridos na faculdade. É uma questão de formação pessoal.
Hoje, com a porta dos vestibulares aberta, a seleção coloca para dentro das escolas médicas principalmente os candidatos que têm mais conhecimento teórico, e não os que de fato possuem as importantes características citadas acima. Por isso considero um absurdo a abertura de um grande número de vagas sem critério de avaliação rigoroso porque, desse jeito, é grande a probabilidade de entregarmos a prática da medicina a indivíduos com as mais distintas fragilidades.
Atualmente, mesmo em vestibulares bem feitos e nas principais escolas medicas, sempre nos deparamos com alunos que passam pela seleção, mas não têm perfil adequado para a medicina. Na conjuntura de hoje, o individuo se arrasta pelo curso de graduação, mas, quando chega à residência médica e é impelido a tomar decisões e conviver com a morte, não possui estrutura psicológica. No exercício desta nobre profissão, as decisões que podem ou não salvas vidas são tomadas sem ter quem confira. E quem que não tem vocação, acaba abandonando o curso, desenvolvendo depressão e outros distúrbios psicológicos.
Para evitar tantos problemas advindos da deficiência do vestibular, o ideal seria que os pretendentes à carreira médica fossem avaliados também por um exame psicotécnico que selecionasse não só os candidatos que sabem responder as questões clássicas, mas sim aqueles que possuem as demais características exigidas pela profissão, já que na medicina não lidamos com máquinas e sim com seres humanos. Essa prerrogativa é, por si só, um diferencial da medicina em relação às outras profissões liberais.
O Brasil não precisa de tantos médicos; precisa, sim, de bons médicos. E selecionar bem os futuros profissionais da medicina é um passo primordial para mudar a triste realidade da Saúde no nosso país. Paralelamente, é mister continuar lutando pela implantação de uma política de governo sólida que fixe os profissionais em regiões afastadas, com remuneração digna e possibilidade de desenvolvimento contínuo. Aí sim, alcançaremos o que sempre sonhamos.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
O resultado desse cenário é um profissional com formação deficiente para exercer a medicina. Sempre digo que para ser médico, além da disposição para enfrentar com trabalho árduo e incansável as dificuldades habituais inerentes à profissão, são necessárias características especiais. É fundamental gostar de gente, amar o próximo. O bom médico também deve ser imbuído de firmeza de caráter, ter senso humanístico, consciência coletiva, amor à vida. E você, como eu, sabe que esses atributos não são adquiridos na faculdade. É uma questão de formação pessoal.
Hoje, com a porta dos vestibulares aberta, a seleção coloca para dentro das escolas médicas principalmente os candidatos que têm mais conhecimento teórico, e não os que de fato possuem as importantes características citadas acima. Por isso considero um absurdo a abertura de um grande número de vagas sem critério de avaliação rigoroso porque, desse jeito, é grande a probabilidade de entregarmos a prática da medicina a indivíduos com as mais distintas fragilidades.
Atualmente, mesmo em vestibulares bem feitos e nas principais escolas medicas, sempre nos deparamos com alunos que passam pela seleção, mas não têm perfil adequado para a medicina. Na conjuntura de hoje, o individuo se arrasta pelo curso de graduação, mas, quando chega à residência médica e é impelido a tomar decisões e conviver com a morte, não possui estrutura psicológica. No exercício desta nobre profissão, as decisões que podem ou não salvas vidas são tomadas sem ter quem confira. E quem que não tem vocação, acaba abandonando o curso, desenvolvendo depressão e outros distúrbios psicológicos.
Para evitar tantos problemas advindos da deficiência do vestibular, o ideal seria que os pretendentes à carreira médica fossem avaliados também por um exame psicotécnico que selecionasse não só os candidatos que sabem responder as questões clássicas, mas sim aqueles que possuem as demais características exigidas pela profissão, já que na medicina não lidamos com máquinas e sim com seres humanos. Essa prerrogativa é, por si só, um diferencial da medicina em relação às outras profissões liberais.
O Brasil não precisa de tantos médicos; precisa, sim, de bons médicos. E selecionar bem os futuros profissionais da medicina é um passo primordial para mudar a triste realidade da Saúde no nosso país. Paralelamente, é mister continuar lutando pela implantação de uma política de governo sólida que fixe os profissionais em regiões afastadas, com remuneração digna e possibilidade de desenvolvimento contínuo. Aí sim, alcançaremos o que sempre sonhamos.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
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