Segundo levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da
Educação, 44,6% dos docentes da rede particular atuam em mais de um
colégio. Na rede pública, a proporção é de 29,1%. O estudo levou em
conta o número de escolas, o número de turnos de trabalho e o número de
séries em que os docentes lecionam.
Além desse levantamento, uma pesquisa elaborada no primeiro
semestre de 2018 em todas as capitais do País pelo Movimento Todos pela
Educação, uma respeitada organização sem fins lucrativos patrocinada por
grandes empresas e instituições financeiras e composta por pedagogos,
dirigentes escolares e especialistas em políticas educacionais, revela
que 38% dos docentes da rede particular de ensino básico atualmente
fazem algum tipo de “bico” fora da área em que atuam. Na rede pública
municipal, o índice é de 22% e, na rede pública estadual, de 30%.
Segundo a pesquisa, o “bico” assegura um aumento de R$ 439,72, em
média, na remuneração mensal dos professores. A necessidade de fazer
trabalhos paralelos para complementar a renda é tão grande que, no ano
passado, uma instituição de ensino particular lançou uma campanha
publicitária para atrair o que chamou de “professores fazedores de
bico”. As entidades docentes reagiram, alegando que a docência, longe de
ser uma “atividade laboral de segunda categoria”, deve ser tratada como
a “profissão que constrói uma nação”. A propaganda foi retirada do ar e
a instituição pediu desculpas.
O resultado da desvalorização salarial do professorado é
conhecido. Seja em decorrência do excesso de aulas e turmas, seja pela
necessidade dos docentes de fazer trabalhos relacionados ao comércio, a
produções artísticas e à prestação de serviços, para poder pagar as
contas, a qualidade do ensino acaba sendo comprometida. Entre outros
motivos porque, além de chegar exaustos às salas de aula, os professores
ficam com menos tempo para preparar materiais didáticos, corrigir
provas, desenvolver diferentes metodologias e fazer cursos de
especialização e de formação pedagógica.
A pesquisa do Movimento Todos pela Educação também desmitifica a
ideia de que os professores da rede privada de ensino fundamental e
ensino médio teriam vencimentos muito acima dos dos docentes da rede
pública. Embora as escolas particulares que atendem alunos da classe
média alta paguem bem, a rede privada conta com muitos colégios que, por
terem foco nos estudantes das demais classes sociais, são obrigados a
cobrar mensalidades mais baixas. “As famílias hoje não têm condição de
pagar mensalidades que sustentem uma boa remuneração para os docentes.
Hoje, se uma escola cobra menos de R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil, ela não
consegue garantir um salário que mantenha o professor lecionando numa só
unidade”, diz o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino
de São Paulo (Sieeesp), Benjamin Ribeiro.
Evidentemente, a saída para evitar que os professores tenham de
recorrer a outras atividades para sobreviver passa pela reestruturação
da carreira docente. Mas esse é um desafio difícil de ser enfrentado,
seja por razões financeiras, seja por pressões corporativas, seja por
motivos administrativos. Por mais que a União repasse recursos para
complementar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
da Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), a gestão desse
ciclo educacional é de responsabilidade dos Estados e municípios, que
organizam as redes escolares. Articular todos os setores, áreas e
agentes envolvidos nesse ciclo deve ser uma das prioridades do governo
que for eleito em outubro.
O estado de São Paulo
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