Em
vídeo veiculado nesta quarta-feira, o Partido dos Trabalhadores
aproveitou uma efeméride celebrada mundialmente —os 100 anos de Nelson
Mandela— para lamentar uma tragédia partidária —os 100 dias de prisão de
Lula. Confundindo crença com credulidade, o petismo comparou o
encarceramento de Lula —por corrupção e lavagem de dinheiro— à prisão
política de Mandela, motivada por sua luta contra o regime de segregação
racial que conspurcava a África do Sul.
O novo vídeo do PT tem
motivações político-religiosas. Em privado, os petistas admitem que a
foto de Lula não deve constar das urnas de 2018, pois a condenação em
segunda instância a 12 anos e 1 mês de cadeia no caso do tríplex fez
dele um ficha-suja inelegível. Em público, porém, os companheiros se
comportam como se a dúvida não fizesse parte do credo do PT.
Alimentado-se
da certeza de que seu único líder é uma potência moral que não deve
contas senão à sua própria noção de superioridade, o PT sustenta na peça
publicitária que, assim como Mandela, Lula foi “perseguido”,
“condenado” e “preso” sem ter cometido “nenhum crime”. E reitera a
previsão dogmática segundo a qual o presidiário “vai voltar para ser
presidente.”
Há muitas diferenças entre Lula e Mandela. A
principal é que a biografia do líder sul-africano não inclui a
corrupção. Nela, não há vestígio de máculas como o mensalão e o
petrolão, os dois escândalos que tisnaram as presidências de Lula.
Mandela tampouco foi contemplado com mimos semelhantes aos que foram
providos por logomarcas como a Odebrecht.
Mandela foi à
Presidência por motivações altruístas. Lula gostaria de voltar por
razões menos nobres. A explicação está no parágrafo 4º do artigo 86 da
Constituição Federal. Anota o seguinte: “O Presidente da República, na
vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos
estranhos ao exercício de suas funções.”
Traduzindo para o
português do asfalto: eleito, Lula não poderia responder por crimes
praticados antes do início do mandato. Iriam para o freezer outras
condenações que estão por vir. Entre elas a sentença que nascerá do
processo em que Lula é acusado de receber de presente da Odebrecht o
apartamento contíguo ao seu, em São Bernardo.
Nessa ação criminal,
a defesa de Lula sustenta que o proprietário do imóvel é Glaucos da
Costamarques, um parente do seu amigão José Carlos Bumlai. Apontado
pelos procuradores da Lava Jato como “laranja”, Glaucos declarou em
depoimento a Sergio Moro que Lula ocupava o imóvel desde 2011 sem pagar
um níquel. Só começou a desembolsar o aluguel no final de 2015, depois
que Bumlai foi em cana.
A analogia esboçada no vídeo ofende a
memória do morto e a inteligência dos vivos. O barulhinho que se ouve ao
fundo é o ruído de Mandela se revirando no túmulo.
vídeo veiculado nesta quarta-feira, o Partido dos Trabalhadores
aproveitou uma efeméride celebrada mundialmente —os 100 anos de Nelson
Mandela— para lamentar uma tragédia partidária —os 100 dias de prisão de
Lula. Confundindo crença com credulidade, o petismo comparou o
encarceramento de Lula —por corrupção e lavagem de dinheiro— à prisão
política de Mandela, motivada por sua luta contra o regime de segregação
racial que conspurcava a África do Sul.
O novo vídeo do PT tem
motivações político-religiosas. Em privado, os petistas admitem que a
foto de Lula não deve constar das urnas de 2018, pois a condenação em
segunda instância a 12 anos e 1 mês de cadeia no caso do tríplex fez
dele um ficha-suja inelegível. Em público, porém, os companheiros se
comportam como se a dúvida não fizesse parte do credo do PT.
Alimentado-se
da certeza de que seu único líder é uma potência moral que não deve
contas senão à sua própria noção de superioridade, o PT sustenta na peça
publicitária que, assim como Mandela, Lula foi “perseguido”,
“condenado” e “preso” sem ter cometido “nenhum crime”. E reitera a
previsão dogmática segundo a qual o presidiário “vai voltar para ser
presidente.”
Há muitas diferenças entre Lula e Mandela. A
principal é que a biografia do líder sul-africano não inclui a
corrupção. Nela, não há vestígio de máculas como o mensalão e o
petrolão, os dois escândalos que tisnaram as presidências de Lula.
Mandela tampouco foi contemplado com mimos semelhantes aos que foram
providos por logomarcas como a Odebrecht.
Mandela foi à
Presidência por motivações altruístas. Lula gostaria de voltar por
razões menos nobres. A explicação está no parágrafo 4º do artigo 86 da
Constituição Federal. Anota o seguinte: “O Presidente da República, na
vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos
estranhos ao exercício de suas funções.”
Traduzindo para o
português do asfalto: eleito, Lula não poderia responder por crimes
praticados antes do início do mandato. Iriam para o freezer outras
condenações que estão por vir. Entre elas a sentença que nascerá do
processo em que Lula é acusado de receber de presente da Odebrecht o
apartamento contíguo ao seu, em São Bernardo.
Nessa ação criminal,
a defesa de Lula sustenta que o proprietário do imóvel é Glaucos da
Costamarques, um parente do seu amigão José Carlos Bumlai. Apontado
pelos procuradores da Lava Jato como “laranja”, Glaucos declarou em
depoimento a Sergio Moro que Lula ocupava o imóvel desde 2011 sem pagar
um níquel. Só começou a desembolsar o aluguel no final de 2015, depois
que Bumlai foi em cana.
A analogia esboçada no vídeo ofende a
memória do morto e a inteligência dos vivos. O barulhinho que se ouve ao
fundo é o ruído de Mandela se revirando no túmulo.
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