Não é fácil manter-se otimista, quando as coisas na política nacional vão de mal a pior.
Somente a crença mística na democracia poderá fortalecer a confiança
de que os turbulentos momentos atuais possam ser superados pelo eleitor,
nas urnas de outubro próximo.
Todavia, para que haja essa reação popular nas urnas, o cidadão terá que estar consciente da existência de certos fatos.
Por exemplo: a nefasta “ditadura partidária”, que precede o pleito.
Tornou-se totalmente impossível, para quem não tenha a “propriedade”
de uma sigla partidária, ser candidato e viabilizar legenda, salvo se
fizer “o jogo” dos “donos” de partidos, transformando-se em “inocente
útil” no aval incondicional dado a “acordos” eleitorais espúrios e
suspeitos, colaborar na garantia de mandatos de terceiros nas famosas
“nominatas” e manutenção de interesses pré-estabelecidos de quem lhes
ofereça a “mão amiga” para disputar.
De nada valem a defesa de propostas, valores éticos, efetivos e reais
serviços prestados no passado, ideias, coerência e discurso honesto.
Prevalecem sempre os oligopólios partidários, fazendo com que a política nacional tenha regredido a verdadeiro estágio tribal.
Como se não bastasse, os atuais deputados e senadores aprovaram a
legislação que regulará a eleição de 2018, com o único objetivo de
reeleger os atuais detentores de mandato, através da manipulação de um
“Fundão” composto de recursos públicos, aplicado sem critério e
fiscalização rígida.
Em declarações recentes ao “Estadão/Broadcast”, líderes dos
dez maiores partidos nacionais, com total despudor, garantiram recursos
de até R$ 2 milhões para cada pretendente à reeleição à Câmara Federal,
além de anunciarem que o espaço da propaganda eleitoral, que terá
período menor de duração, seria priorizado no rádio e TV para uso
exclusivo dos caciques partidários e candidatos já conhecidos, a fim de
facilitar a preservação dos mandatos atuais.
Os 35 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), até agora “embolsaram” mais de R$ 260 milhões, apenas nos
primeiros quatro meses do ano e asseguraram mais de R$ 2 bilhões para
“nadar” em dinheiro (público) nas eleições.
Além disso, em verdadeiro farisaísmo, abriu-se a porteira para o candidato poder usar recursos próprios.
Instalou-se a desigualdade, na medida em que, por exemplo, um
candidato milionário ao senado poderá gastar até R$ 5.6 milhões (afora o
“Fundão”) e outros ficam à mingua.
Neste ano, o Palácio do Planalto já esparramou mais de R$ 2 bilhões
dos cofres públicos, dando impulso às reeleições dos seus “aliados”.
Tornaram-se rotina no país, a distribuição de ambulâncias, carros de polícia, equipamentos odontológicos etc...
Aqui acolá um “dinheirinho” fácil, à título de ajuda na construção de
posto de saúde, escola, ponte, enfim o meio de “engabelar” o eleitor.
Observe-se que é absolutamente legítimo o titular de mandato eletivo
liberar recursos, em favor de cidades e municípios, onde foi votado.
Nada contra isso, pois os prefeitos necessitam dessa ajuda.
Todavia, deveriam existir critérios pré-definidos, em relação a obras
e setores considerados prioritários, onde fosse possível somar os
recursos e alcançar resultados definitivos, na solução de problemas
coletivos.
Outro detalhe em vigor na eleição de 2018 - trágico se não fosse
cômico - é que somente será permitido carro de som em carreatas,
caminhadas, passeatas, reuniões ou comícios, se o próprio candidato
estiver – em carne e osso – dentro do veículo, ou seja, passou a ser
exigido o dom da ubiquidade, que permita estar presente ao mesmo tempo
em vários locais e cidades.
Será uma campanha de “surdos e mudos”, sem riscos de denuncias, ou esclarecimentos à população, bem ao gosto das reeleições.
Com os fatos já consumados, resta apelar aos movimentos sociais e
entidades da sociedade civil, no sentido de ajudarem na divulgação de
informações, que orientem o voto consciente.
Quem permanece no barco, não deseja que ele afunde.
Como brasileiro torço para que tudo dê certo em outubro próximo.
Mas, a “farra eleitoral” será grande.
O que esperar?
Talvez, que Deus continue brasileiro e mais uma vez tenha piedade de nós!
Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br
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