sexta-feira, 7 de setembro de 2018

E o que restou? Independência ou Morte!




   Algumas vezes sonhamos acordados. Noutras desejamos que a realidade fosse um pesadelo, assim, ao acordarmos a realidade seria a mesma. A primeira parte, do sonho, vivi neste dia 5 de setembro, data em que, há 196 anos, Dom Pedro I deixava São Paulo rumo ao Rio de Janeiro naquela que se tornou a viagem da Independência do Brasil.

 O então Príncipe Real fora apaziguar os ânimos na Província de São Paulo. Durante essa viagem, chegou ao Rio de Janeiro ordens para que ele, Dona Leopoldina e os filhos seguissem para Portugal, sede do Reino. A Princesa, nomeada regente na ausência do marido, naquele 2 de setembro de 1822, convocou o Conselho de Ministros e foi aprovada a Independência do Brasil. A Princesa assinou o Decreto. Dom Pedro decidiria se proclamaria ou não a independência do Brasil. Ele, corajosamente, aos 24 anos incompletos (completaria no dia 12/10/1822), proclamou a Independência quando alcançava as margens do Rio Ipiranga, já distante da capital paulista, na época.
    Pois no dia 5 de setembro de 2018, no Museu Histórico Nacional, na Praça Marechal Âncora, Centro do Rio de Janeiro, tive a emoção de, representando a equipe que trabalhou na reconstrução facial do Imperador, por mim coordenada, composta além de mim, pelo designer 3D Cícero Moraes e pelo perito do IML do Rio, Dr. Marcos Paulo Sales, e da equipe que idealizou o busto de Dom Pedro em tamanho real, assinar o termo de doação dessa peça ao Museu Histórico Nacional. O busto foi impresso pela empresa dOne 3D, de Ribeirão Preto (SP), teve a pintura realizada pela artista plástica Mari Bueno e contou com o apoio da Wiki Educação Brasil, representada por Rodrigo Padula de Oliveira. Foi um dia memorável. Pareceu um sonho.
    A segunda parte, se deu no domingo passado, 2 de setembro, data exata da assinatura do Decreto da Independência, por Dona Leopoldina. Eu estava em deslocamento de Fortaleza para Sobral quando vi na Internet que um incêndio atingira o Palácio Imperial de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro. No local residiram o Rei Dom João VI e Dona Carlota Joaquina, os Imperadores do Brasil, Dom Pedro I e Dona Leopoldina, Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina. No Palácio nasceram Dona Maria (Rainha de Portugal com o nome de Maria II) e seu irmão, Dom Pedro II e, ainda, a Princesa Isabel, espaço da assinatura do Decreto da Independência, prefalado, e da outorga da primeira Constituição do Brasil e que, após o golpe republicano de 1889, sediou a Assembleia Nacional para elaborar a primeira Constituição da República, transformado, depois em Museu Nacional. Toda essa imaterialidade dentro do material, foi devorada pelo fogo. Parecia um pesadelo e quisera mesmo que fosse. [
    Não foi apenas a destruição da memória de nossa fundação enquanto Nação, o que já foi prejuízo incalculável, mas, a destruição de um pedaço importante da História da Humanidade que ali estava. Por mais que se reconstrua o prédio (e isso é extremamente necessário que a classe política que negligenciou a manutenção do importante acervo e prédio faça), seu acervo jamais será recomposto. A tragédia nos mostrou o descaso com que se trata nossa História e o patrimônio cultural brasileiro e, ainda, deu-nos um alerta para que tal situação não se repita.
       Deus salve a Pátria!
Autor José Luís Lira é advogado e professor do curso de Direito da Universidade Vale do Acaraú–UVA, de Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Nacional de Lomas de Zamora (Argentina) e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Messina (Itália). É Jornalista profissional. Historiador e memorialista com mais de vinte livros publicados. Pertence a diversas entidades científicas e culturais brasileiras.

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