sábado, 18 de agosto de 2018

Crianças e adolescentes na era digital














A facilidade que crianças têm ao manusear um smartphone é fascinante. Aos 5 anos, já conseguem usar aparelhos eletrônicos com extremo domínio, podendo causar inveja a muitos adultos que quebram a cabeça tentando decifrar os dispositivos. O que às vezes pode parecer um dom, na verdade é a consequência de uma geração que é exposta à tecnologia desde os seus primeiros meses de vida. Segundo o Ibope, crianças de 2 a 11 anos representam 14% dos usuários da internet. Existe muita controvérsia quando o assunto é definir se essa imersão no mundo digital é um benefício ou malefício. Algumas pessoas argumentam que tempo demais na frente de um computador compromete a infância, enquanto outras defendem as vantagens que o fácil acesso a informação pode trazer.
Falamos com Dina, mãe do Guilherme, de 3 anos. O pequeno menino passava poucas horas no smartphone, apenas quando a televisão não estava disponível. “Na TV ele assiste ao Netflix, já que se sabe exatamente o que ele tá assistindo. No celular é YouTube, mas às vezes aparece alguns desenhos macabros que eu jamais colocaria para ele assistir.”
Apesar da mãe acreditar que alguns conteúdos midiáticos auxiliavam na educação do Guilherme, o pediatra instruiu a família a limitar as horas que o menino passa na frente da televisão e aconselhou a família a proibir o uso do smartphone. Segundo o profissional, o dispositivo atrapalha o desenvolvimento e não permite o descanso do olhar em nenhum momento, enquanto a TV permite a interação com os brinquedos que estão ao redor.
No mundo, existem cerca de 24 milhões de crianças e adolescentes, entre 9 a 17 anos, usuárias de internet. Será que elas estão realmente seguras, expostas a tanta informação que anda cada vez de forma mais veloz?
A rede de computadores traz uma nova forma de se relacionar, porém em um meio não planejado para crianças.

Conforme o artigo da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre a saúde das crianças e dos adolescentes na era digital, de outubro de 2016

Quais são os benefícios para o meu filho?

Junto com a popularização da internet, o acesso à informação se tornou muito mais fácil e democrático. Uma pesquisa que antes necessitava da visita a bibliotecas e livrarias, hoje pode ser concluída minutos depois do uso da ferramenta de busca. Adquirir conhecimento está a poucos cliques de distância, e a oferta de um mundo de informações é um benefício inegável para a vida de uma criança
A apropriação dos métodos de entretenimento infantil e a conversão para mídias digitais é uma forma de adaptar informação e repassá-la para o público infantil. A união de vídeo, áudio, textos e hiperlinks na formação de conteúdo multimidiático é o principal motivo pelo interesse pela tecnologia. Em plataformas de downloads de aplicativos para celulares encontram-se diversas aplicações de educação infantil, oferecendo aprendizados como cores, números e formas geométricas de forma gamificada e interativa. Jogos, por exemplo, podem ser usados como forma de desenvolver funções cognitivas e sensoriais. Os games podem ser usados como método de melhora da noção espacial, processo de tomada de decisões e autonomia.



Como método para reter atenção e cativar alunos, o som, áudio, grafismo e textos podem ser usados também dentro da sala de aula. Uma pesquisa feita pelo núcleo de ensino da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostra que alunos têm melhores desempenhos em disciplinas como matemática e física, podendo melhorar o rendimento em até 30%. Além disso, a interação feita por crianças em mídias digitais e sociais contribuem na formação e no desenvolvimento da infância, permitindo uma nova forma de relação ensino-aprendizado e interpessoal. Permitindo a auto expressão em comentários em redes sociais e chats, pode haver uma influência positiva na criatividade e nas habilidades sociais
Crianças lactentes e pré-escolares ainda tem habilidades de atenção imaturas, e todo o contato com tecnologias de informação e comunicação (TICs) precisa ser manuseada ou auxiliada por um responsável

A saúde em risco com a tecnologia excessiva



De acordo com matéria publicada pelo site do jornal inglês The Telegraph, o relatório garante que crianças que passam mais de quatro horas conectadas diariamente são as que mais correm riscos. Os dados foram considerados alarmantes e reforçam o temor de pais e educadores quanto à dificuldade em fazer com que as crianças consigam se desligar desses aparelhos.


De acordo com a Academia Americana de Pediatria, não é recomendável que crianças com menos de um ano e meio tenham acesso a qualquer tipo de dispositivos digitais, como televisão, computador, tela de telefones ou tablets. Porém, pais e responsáveis estão tornando-se cada vez mais liberais, perdendo o controle do conteúdo acessado e de sua frequência.
“Períodos mais longos acabam invadindo o tempo de outras atividades importantes para o desenvolvimento da criança, como comer, dormir, brincar, fazer exercícios e conversar.” ~BabyCenter Brasil
Essa falha de controle sobre quando e como utilizar da tecnologia para que ela não traga prejuízos é visível tanto na forma em como a colocamos com as crianças, como com nós mesmos. Isso mostra que o problema inicia na falta de conhecimento e controle de nossa própria estrutura cultural, estamos passando para as crianças nossas próprias ações.


Além de dores nas costas, olhos secos, dores nos dedos e articulações, também podemos associar o uso excessivo ao déficit de atenção, atrasos cognitivos, dificuldades de aprendizagem, obesidade e problemas com o sono. Na tentativa de balancear os prós e contras, primeiramente listamos algumas questões que afetam a saúde das crianças.


A utilização de aparelhos eletrônicos por pelo menos 2 horas durante a noite pode fazer com que a criança adie e/ou torne o sono mais curto, trazendo hiperatividade e perturbações ao dormir.



Juntamente com o sono afetado, as tarefas que viriam no próximo dia, como atividades escolares, alfabetização e atenção, podem ser afetadas. Vale também lembrar que a falta de sono noturno pode acarretar problemas de crescimento.


O sedentarismo que implica o uso das tecnologias é um dos problemas que está aumentando entre as crianças. Estima-se que crianças com aparelhos eletrônicos no quarto têm 30% mais chance de serem obesas. Além disso, a obesidade leva a outras doenças mais graves, como o diabetes, problemas vasculares e cardíacos.



Há diversos estudos realizados em todas as partes do mundo que ligam o uso excessivo das tecnologias a uma série de distúrbios mentais como a depressão, ansiedade, autismo, transtorno bipolar, psicose e distúrbios no processo de vinculação entre pais e filhos. Psicólogos e pediatras tanto da Academia Americana de Pediatria quanto da Sociedade Canadense de Pediatria afirmam que conteúdos multimídias em alta velocidade reduzem as faixas neuronais para o córtex frontal, que podem contribuir para o aumento do déficit de atenção, causando problemas de concentração e memória.

A tecnologia no dia-a-dia



As evoluções tecnológicas na área da informação têm contribuído para uma revolução. Hoje, graças a essas tecnologias, é possível fazer e realizar tarefas que há poucos anos eram impensáveis, senão impossíveis. Elas trazem claros benefícios, porém também perigos e riscos, que começam a se sobressair.
Cada vez mais vemos crianças e adolescentes sendo expostas em redes sociais, por seus responsáveis ou elas mesmas, aumentando o risco de abusos sexuais, pedofilia, sequestros e crimes virtuais. De acordo com Ulla Carlsson Ex-diretora do Centro de Informações Nordic for Media e Pesquisa de Comunicação da Universidade de Gotemburgo:
“Não é exagero dizer que os indivíduos mais vulneráveis neste mundo da mídia globalizada são nossas crianças. As mudanças que presenciamos — atuais e futuras — influenciam profundamente suas vidas. ”
À medida que o uso de smartphones, tablets e outros aparelhos conectados à Internet usados por crianças aumentam, também aumentam os riscos de elas serem expostas a material impróprio, em particular à atividade criminosa de pedófilos e exploradores de pornografia com crianças. Apesar dos benefícios das mídias online serem maiores do que seus malefícios potenciais, esses perigos não podem ser ignorados. Se ignorados, constituem uma ameaça às crianças e se tornarão objeto de resistência ao uso futuro da Internet. Conforme Ulla Carlsson:
“O conteúdo da mídia levanta algumas questões vitais. Durante anos, muitas pessoas expressaram suas preocupações com os efeitos da mídia, e não apenas da televisão, sobre seu público, especialmente as crianças e os jovens. O conteúdo violento da mídia tem merecido uma atenção particular. Infelizmente, a proliferação de produtos da mídia, hoje, significa que a violência e a pornografia estão mais difundidas do que nunca, e há uma preocupação considerável — entre pais, professores e autoridades públicas — quanto à forma como tal conteúdo pode influenciar os jovens. Muitas pessoas suspeitam que haja uma correlação entre o aumento do nível de violência na vida cotidiana, particularmente aquela cometida por crianças e jovens, e a cultura de violência que nossas crianças encontram na televisão, filmes de vídeo, jogos de computador e via Internet.”


Conforme o artigo da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre a saúde das crianças e dos adolescentes na era digital, de outubro de 2016

Conforme o manual da SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, sobre a saúde das crianças e dos adolescentes na era digital, de outubro de 2016 veja as 12 dicas recomendadas por médicos pediatras para pais/responsáveis de como lidar com a tecnologia no dia-a-dia das crianças e adolescentes para que não haja problemas futuros:
  1. O tempo de uso diário ou a duração total/dia do uso de tecnologia digital seja limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento cerebral-mental-cognitivo-psicossocial das crianças e adolescentes.
  2. Desencorajar, evitar e até proibir a exposição passiva em frente às telas digitais, com exposição aos conteúdos inapropriados de filmes e vídeos, para crianças com menos de 2 anos, principalmente, durante as horas das refeições ou 1–2 h antes de dormir.
  3. Limitar o tempo de exposição às mídias ao máximo de 1 hora por dia, para crianças entre 2 a 5 anos de idade. Crianças entre 0 a 10 anos não devem fazer uso de televisão ou computador nos seus próprios quartos. Adolescentes não devem ficar isolados nos seus quartos ou ultrapassar suas horas saudáveis de sono às noites (8–9 horas/noite/fases de crescimento e desenvolvimento cerebral e mental). Estimular atividade física diária por uma hora.
  4. Crianças menores de 6 anos precisam ser mais protegidas da violência virtual, pois não conseguem separar a fantasia da realidade. Jogos online com cenas de tiroteios com mortes ou desastres que ganhem pontos de recompensa como tema principal, não são apropriados em qualquer idade, pois banalizam a violência como sendo aceita para a resolução de conflitos, sem expor a dor ou sofrimento causado às vítimas, contribuem para o aumento da cultura de ódio e intolerância e devem ser proibidos.
  5. Estabelecer limites de horários e mediar o uso com a presença dos pais para ajudar na compreensão das imagens. Equilibrar as horas de jogos online com atividades esportivas, brincadeiras, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza.
  6. Conversar sobre as regras de uso da Internet, configurações para segurança e privacidade e sobre nunca compartilhar senhas, fotos ou informações pessoais ou se expor através da utilização da webcam com pessoas desconhecidas, nem postar fotos íntimas ou nudes, mesmo com ou para pessoas conhecidas em redes sociais.
  7. Monitorar os sites/programas/aplicativos/ filmes/vídeos que crianças e adolescentes estão acessando/visitando/trocando mensagens, sobretudo em redes sociais. Manter os computadores e os dispositivos móveis em locais seguros, e ao alcance das responsabilidades dos pais (na sala) ou das escolas (durante o período de aulas).
  8. Usar antivírus, antispam, antimalware e softwares atualizados ou programas que servem de filtros de segurança e monitoramento para palavras ou categorias ou sites. Alguns restringem o tempo de uso de jogos online e o uso de aplicativos e redes sociais por faixa etária. Ainda assim, é importante explicar com calma e sem amedrontar as crianças e adolescentes sobre quais são os motivos e perigos que existem na Internet, espaço vazio e virtual e onde nem tudo é o que parece ser!
  9. Aprender / Ensinar a bloquear mensagens ofensivas ou inapropriadas, redes de ódio, violência ou intolerância ou vídeos com conteúdos sexuais e como denunciar cyberbullying em helplines ou através da SAFERNET ou disque-denúncia tel. 100.
  10. Conversar sobre valores familiares e regras de proteção social para o uso saudável, crítico, construtivo e pró-social das tecnologias usando a ética de não postar qualquer mensagem de desrespeito, discriminação, intolerância ou ódio.
  11. Desconectar. Dialogar. Aproveitar oportunidades aos finais de semana e durante as férias para conviver com a família, com amigos e dividir momentos de prazer sem o uso da tecnologia, mas com afeto e alegria.
  12. Conversar com seus fi lhos sobre a Internet e também sobre as redes sociais e quais os sites que são mais apropriados, de acordo com o desenvolvimento e a maturidade de cada um, compartilhando o uso positivo das tecnologias digitais com seus filhos nas tarefas de rotina ou lazer, mas sem invadir os espaços e as mensagens de cada um. Fazer uma lista de sites recomendados, conversar sobre os perigos e riscos da Internet ou encontros com pessoas desconhecidas em redes sociais ou fora delas.

O uso das mídias digitais e sociais por crianças e adolescentes trazem diversos benefícios para desenvolvimento dos jovens. Diante de tantos possíveis problemas, é normal se assustar e duvidar da capacidade da tecnologia de auxiliar na educação e formação do público infantil. O que define se uma criança vai usufruir corretamente das vantagens de dispositivos digitais é a quantidade de tempo que ela permanece com o TCI e o acompanhamento dos responsáveis ao conteúdo acessado. Todo mundo que nasceu depois dos anos 2000, são nativos de um mundo adaptado para o digital.
Incentivar o uso de novas tecnologias é um ótimo passo para ajudar o homem a se desenvolver usufruindo do melhor da evolução tecnológica, e, se aprendermos a utiliza-la da melhor forma, iremos evoluir junto com ela.

Fonte - Medium.com

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