quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Petrobras virou a “Geni” da política brasileira no momento

Com o título “A Petrobras virou a Geni da política”, eis artigo do jornalista Luís-Sérgio Santos. Ele faz uma analogia entre o sucesso de Chico Buarque e a situação atual da estatal, mergulhada em tanta corrupção e alvo de muita, muita pedra de tudo que é lado. Confira:
Algumas e muitas vezes os nordestinos somos tratados como os da República de idiotas. E isto se reedita agora, em massa, no caso a refinaria do Ceará que a Petrobras “desconstruiu”. É para a Petrobras que são dirigidas as críticas de políticos cearenses da base de apoio do Governo. Na verdade, a Petrobras está sendo a Geni da história. Como se sabe, no “épico” de Chico Buarque, Geni é uma prostituta bode expiatório, vítima de um grande cafetão institucional. “Joga pedra na Geni!/Joga pedra na Geni!/Ela é feita pra apanhar!/Ela é boa de cuspir!/Ela dá pra qualquer um!/Maldita Geni!”
O cafetão aparece muito bem desenhado, com letras secas, em Dias Gomes, O Pagador de Promessas. Ele é sádico, pervertido e compulsivo. Tudo que Freud sonhou analisar em um mesmo indivíduo.
Pois a Petrobras virou, assim não tão de repente, a prostituta preferida de uma meia dúzia de cafetões. O caso da refinaria do Ceará é um clássico exemplo. Quem nos “vendeu” a Refinaria Premium II — de onde se poderia até mesmo beber gasolina, tal sua qualidade — foi o então presidente Lula, com direito a solenidade ruidosa de lançamento de pedra fundamental. Ele falou em nome da Petrobras com a ênfase contundente do político que impressiona no palanque. De suas palavras extraiu-se a certeza: a refinaria vai sair mesmo. Depois, Dilma vendeu o mesmo peixe. É claro que eles sabiam o que estavam vendendo peixe podre.
A refinaria nunca foi planilhada nos documentos da Petrobras, nunca foi prevista em orçamentos ou cartas de intenções da empresa. Portanto, a refinaria sempre foi uma ficção política porque ela sequer chegou a existir juridicamente.
A presidente Graça Foster está isenta de qualquer grave acusação. Ela nunca prometeu nada. Quem prometeu foi Lula e depois Dilma. Dirigir críticas à Petrobras é tergiversar, é se acovardar em relação aos reais alvos das críticas; aqueles que transformaram a ficção da refinaria em votos e, hoje, usufruem deles em seus cargos públicos.
No máximo, a Petrobras foi conivente pelo silêncio e pela omissão. Entrou no jogo eleitoral dos que se beneficiaram da trama, em especial Lula e Dilma. A ênfase de suas falas assegurando a refinaria não deixavam dúvidas sobre a veracidade. E o que temos agora é a constatação de uma grande fraude retórica.
Quantos eleitores foram influenciados em seu voto a favor de Lula e Dilma em contrapartida à promessa da refinaria? Dá para reembolsar esses votos? Digo isto porque o Ministério Público do Ceará (MP-CE) sinaliza para uma provável ação contra a Petrobras pedindo o reembolso dos investimentos feitos pelo Governo do Ceará que adquiriu o terreno para a construção da refinaria e doou o mesmo para a petroleira. O Governo do Ceará fez sua parte e, desse modo, tem tudo para se sentir também ludibriado. O governador Camilo Santana assegura que levará sua indignação a presidente Dilma Rousseff a quem cabe reclamar e não a Petrobras que foi usada e se deixou usar politicamente neste episódio.
Já do parlamento estadual, via tribuna da Assembleia Legislativa do Ceará, o que se espera é uma sonora e contundente crítica pública nas sessões da casa e não mais uma inócua campanha institucional.
A cafetinagem precisa saber que a instituição Petrobras, hoje violentada em sua autoestima, não tem vocação para Geni.
* Luís-Sérgio Santos,
Jornalista.

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