domingo, 14 de setembro de 2014

BASTA DE FINGIR - por Cristóvam Buarque (EXCELENTE!) - Uma voz que não cansa de pregar no Deserto do Legislativo.
 Até no futebol fingimos ser os tais. 

Basta de fingir

  
 “Fingimos ser ricos, apesar da pobreza; Fingimos ser possível dar um salto à universidade sem passar pela educação de base; Não damos atenção para o fato de que temos 13 milhões de adultos prisioneiros do analfabetismo, 54,5 milhões de brasileiros com mais de 25 anos não concluindo o ensino fundamental, e 70 milhões não terminando o ensino médio;
 
Fingimos que os matriculados estão estudando, embora passem meses sem aula por motivos diversos alheios a sua vontade; Fingimos que dando bolsa estamos erradicando a pobreza, embora na realidade estamos fazendo com que fiquem infantilizados, dependentes e continuando sem acesso aos bens e serviços essenciais que permanecem fora do seu alcance;
 
Fingimos ter 94,9 milhões na classe média se estão com renda mensal entre R$291,00 e R$1.019,00, num pais que não tem infraestrutura mínima de locomoção, assistência médica, educação básica, segurança e perspectiva de progresso por esforço e mérito; Fingimos que o aumento da frota de automóveis é progresso, quando não temos malha metroviária, ferroviária, fluvial/marítima e aérea que se possa chamar de tal;
 
Fingimos que estamos numa democracia quando temos 32 partidos politicos, 39 ministérios, ausência de isonomia salarial entre funcionários públicos federais concursados dos três poderes, padronizada em todo o país; Fingimos que podemos controlar a violência, corrupção, tráfico de drogas e contrabando, quando a nossa fronteira seca e marítima não está adequadamente guarnecida;
 
Queremos dar palpite errado no Conselho de Segurança da ONU quando nem ao menos somos capazes de garantir segurança de nossos concidadãos dentro do próprio território nacional; Fingimos respeitar os índios, mas na realidade estamos estimulando e permitindo que eles não nos respeitem e se achem donos da terra porque não sabemos administrar a questão e permitimos que ONGs e seus kits palpiteiem e perambulem à vontade por aqui;
 
Fingimos aceitar que o legislativo e o judiciário votem seus próprios proventos e vantagens, enquanto os da CLT e concursados do executivo ficam limitados a leis e regulamentos mutantes, sempre mais restritivos e humilhantes.”
 
Cristovam Buarque

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